Nos EUA, Bispo de El Paso denuncia: "Migrantes tratados sem dignidade"
Federico Piana ¨C Vatican News
Sua dor é imensa, incontrolável. Isso fica bem claro pelo teor de suas respostas, que transbordam preocupação a cada sílaba. Cada frase que Dom Mark Joseph Seitz pronuncia, em conversa com a mídia vaticana, é um golpe violento na alma. Causa um abalo na consciência ouvir o bispo da diocese de El Paso, no Texas, e presidente da Comissão para os Serviços aos Migrantes e Refugiados da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, descrever a dura atitude da administração americana em relação a milhares de pessoas que abandonaram seus países para fugir da pobreza, guerras e abusos.
Direitos desrespeitados
O bispo denuncia a suspensão e o desrespeito aos direitos fundamentais que os EUA, desde sua fundação, consideraram inalienáveis: "No tratamento que agora está sendo dado aos imigrantes, o respeito fundamental pela dignidade dada por Deus e a preocupação com o bem-estar das pessoas e suas famílias são deixados de lado. Nossos princípios fundamentais são ignorados quando grupos inteiros de pessoas se tornam objeto de um perfilamento racial¡±. E dói ainda mais ouvi-lo falar de violações flagrantes das garantias estabelecidas pela gloriosa constituição americana no momento em que ele aborda o capítulo das deportações em massa que foram planejadas e que agora estão começando a ser implementadas sem hesitação.
"Essas deportações", afirma o bispo, "também implicam a violação da Carta de Direitos: o direito a um processo justo e o que prevê a defesa contra buscas e apreensões irracionais. A lei e a ordem que haviam sido prometidas foram substituídas por uma abordagem caótica e aleatória na aplicação das normas sobre imigração que parece ter sido concebida para oprimir, criando um clima de medo e intimidação". Os bispos americanos estão assustados também com o fato de que a narrativa sobre os imigrantes está assumindo tons perigosos, explosivos. E Dom Seitz se torna o porta-voz dos pesadelos de seus coirmãos: "Muitos grupos étnicos são constantemente descritos como criminosos, estupradores, clandestinos. Uma maneira atroz de desumanizá-los. Mais genericamente, há um grande desprezo pelo bem-estar dos pobres. Estão sendo cortados os serviços sociais e as ajudas que são uma tábua de salvação para os famintos e os doentes, enquanto se propõem cortes fiscais que beneficiarão principalmente os mais ricos¡±.
A reação da Igreja local
Nas ruas de muitas cidades, multiplicaram-se as abordagens, as revistas indiscriminadas, as prisões consideradas arbitrárias e, às vezes, ilegítimas. Houve até quem fosse algemado enquanto tentava cruzar o limiar de uma igreja para participar da missa dominical. Uma tendência autoritária considerada pelo bispo como "abordagem que atualmente é adotada pelos funcionários da imigração em todo o país. A administração tem repetidamente enfatizado que está caçando criminosos violentos, mas a realidade é bem diferente: os imigrantes que não cometeram nenhum crime estão sendo visados, e muitos deles são legais. Chegaram-nos até notícias de pessoas nascidas nos Estados Unidos que foram envolvidas nessas ações de contraste ampliado". A reação da Igreja local não se fez esperar: não faltaram declarações públicas de condenação, enquanto muitas dioceses coordenaram reuniões de massa, marchas pacíficas e vigílias silenciosas. Bispos, sacerdotes, freiras e leigos expressaram seu descontentamento dirigindo-se aos tribunais e aos locais onde os migrantes são visados para garantir o máximo respeito aos procedimentos legais.
Um convite à colaboração
A maioria dos americanos não conhece a realidade vivida pelos migrantes nem a complexidade das regras do sistema de gestão do fenômeno migratório, e ainda assim muitos estão preocupados com tudo o que está acontecendo. "Como prova disso", acrescenta o presidente da Comissão de Imigração da Conferência Episcopal dos EUA, "estima-se que em 14 de junho passado, pelo menos 5 milhões de pessoas manifestaram-se contra essas políticas, saindo às ruas de numerosas cidades em toda a nação. Além disso, as pesquisas mostram constantemente que uma ampla maioria de americanos de todo o espectro político é favorável à criação de um caminho para o status legal permanente para os residentes de longa data, algo que os bispos americanos apoiam há muito tempo¡±. À pergunta que visava compreender de que forma a Conferência Episcopal local estava dialogando com a administração para obter modificações nas medidas sobre imigração, Seitz reserva uma resposta lacônica: "Nossa Conferência Episcopal está constantemente empenhada em comunicar-se com esta e com todas as administrações. Procuramos fornecer uma contribuição moral baseada nos ensinamentos de Cristo a respeito das questões e das leis em discussão¡±. Um convite à colaboração para tentar curar as feridas.
A mensagem aos Bispos americanos
A questão das políticas da administração dos EUA sobre migrantes e refugiados já havia sido abordada com firmeza na Carta aos Bispos dos Estados Unidos, enviada em fevereiro passado pelo Papa Francisco. Na missiva, o Pontífice sublinhava a importância de proteger o respeito aos migrantes, convidando a uma abordagem acolhedora e respeitosa das suas necessidades. Estigmatizando as políticas de deportação em massa, o Pontífice afirmava que estas ferem a dignidade humana de muitos homens, mulheres e de famílias inteiras, e que um Estado de direito deve proteger todos os cidadãos, incluindo os migrantes. Ao mesmo tempo, o Papa Bergoglio reconhecia "o direito de uma nação de se defender e proteger as comunidades daqueles que cometeram crimes violentos ou graves enquanto estavam no país ou antes da chegada". A carta convidava os fiéis e os homens de boa vontade a não cederem a narrativas discriminatórias que "causam sofrimento inútil aos nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados" e a promoverem a acolhida, a proteção, a promoção e a integração dos migrantes. Palavras que, neste momento, parecem assumir ainda mais urgência.
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