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Dom N¨¦lio Pita, Bispo auxiliar de Braga (Portugal) - foto /Arquidiocese de Braga Dom N¨¦lio Pita, Bispo auxiliar de Braga (Portugal) - foto /Arquidiocese de Braga 

¡°Quero aprender com o povo¡±, D. N¨¦lio Pita ¨¦ o novo bispo auxiliar de Braga

¡°Os pobres s?o os nossos mestres e senhores. Essa ¨¦ tamb¨¦m uma espiritualidade que me enche, ¨¦ profundamente evang¨¦lica, ¨¦ o cora??o do Evangelho¡±, afirma.

Rui Saraiva ¨C Portugal

¡°Quero aprender com o povo¡±, refere D. Nélio Pereira Pita em entrevista ao departamento de comunicação da Arquidiocese de Braga. E vai ser na Sé de Braga no próximo domingo 27 de julho que será ordenado bispo.   

Num trabalho da jornalista Renata Rodrigues, o novo bispo auxiliar de Braga apresenta-se em discurso direto. É sacerdote da Congregação da Missão (vicentino), tendo sido provincial em Portugal e assistente geral em Roma. Tem Licenciatura em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa, e formação em Teologia Espiritual na Universidad Pontificia Comillas, em Madrid. Tem um mestrado em Psicologia Clínica no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, de Lisboa, sendo membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses e Membro da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica. É natural da ilha da Madeira e começa por contar como descobriu a sua vocação.

¡°Eu nasci na Madeira, nasci no contexto de uma família católica. A minha mãe, em especial, era e é uma mulher muito devota. Cresci participando na Eucaristia, os sacramentos, até à adolescência em que comecei a abrir os olhos para uma nova realidade, a ter uma nova leitura também daquilo que eram os acontecimentos da história. E isso fez com que eu, de alguma forma, rejeitasse aquilo que tinha aprendido. Acho que a adolescência é uma época de contestação e eu passei por essa contestação. Então vivi um período de talvez 3, 4 anos de um certo distanciamento da Igreja e da prática religiosa. Mas vivia inquieto, mesmo atribulado e triste, porque não encontrava sentido para a existência. 

Lembro-me que houve um episódio que foi marcante, que foi uma altura em que a minha mãe, porque sabia que eu já não ia à igreja, já não me confessava, que insistiu muito que eu fosse me confessar, porque era a altura da Semana Santa. Eu era um adolescente zangado, porque tinha sido enganado, de alguma forma, pela Igreja, pensava eu. Fui-me confessar e estava com vontade de dizer ao padre que não concordo com a Igreja, pelo que a Igreja diz, por exemplo, sobre Adão e Eva, a Inquisição¡­ E quando eu falei sobre isso com esse sacerdote, o colega sacerdote compreendeu-me e disse-me que eu tinha razão em muitos pontos de vista. E o facto de sentir que me entendiam, que me compreendiam, fez com que eu me acalmasse.

Depois o sacerdote convidou-me a conversarmos outros dias, mantermos um diálogo, e de alguma forma mantive esse diálogo. Até que um dia o sacerdote propôs-me a vida sacerdotal, eu achei que isto era um disparate. A verdade é que, depois de me reencontrar com Deus, eu acho que a vida ganhou outro sentido, uma luz, uma paz, que eu não tinha quando vivia sem Deus. E percebi: quero isso para mim. Quero viver e quero propor esta vida, esta vida em plenitude, às pessoas. E por que não? Senti que Deus me chamava. Também senti que tinha medo de dizer aos meus pais, aos meus amigos. Tinha 17 anos, nessa altura estudava Música, estudei Música no Conservatório. Depois de superar estas resistências, de encontrar coragem suficiente, disse aos meus pais. E claro, minha mãe, os meus pais apoiaram-me. E entrei no Seminário já aqui no Porto, vim para o Porto com 18, 19 anos. Comecei assim o percurso para um dia tornar-me sacerdote¡±, diz D. Nélio.

Uma vocação que se inspirou no carisma vicentino, desde logo, porque o sacerdote que acolheu Nélio Pita era vicentino.

¡°O sacerdote com quem eu falei é vicentino. Foi esse sacerdote que me acompanhou, que me ouviu, que me fez desabrochar para uma nova vida, abrir os olhos para uma nova realidade. Foi fundamentalmente esse colega. Por outro lado, o carisma Vicentino, depois percebi mais tarde, na medida em que fazemos uma opção também de atenção, em especial aos pobres, porque os pobres são os nossos mestres e senhores. Essa é também uma espiritualidade que me enche, é profundamente evangélica, é o coração do Evangelho. Acreditamos que Jesus está realmente presente na Eucaristia, que deve ser adorado, mas esse Deus também está na pessoa do pobre, daquele que é marginalizado, também ele é a presença real. Não podemos separar uma dimensão da outra. Essa espiritualidade, essa proposta espiritual agradou-me, e é por isso que entrei no seminário dentro da Escola Vicentina¡±, assinala.

O novo bispo auxiliar de Braga recorda o seu percurso de vida e de formação.

¡°Portanto, sou natural da Madeira, por isso fui ordenado na Madeira. Agora terei a alegria de ser ordenado aqui, em Braga. Esta é a minha cidade agora, mas na altura, depois de acabar os estudos, fui viver para a Madeira durante dois anos e fui ordenado na Madeira. Logo a seguir fui enviado para Madrid, onde fiz dois anos numa especialidade que é a teologia espiritual, na Pontifícia de Comillas.

Pediram-me para ficar na formação dos nossos, e fiquei como responsável da formação dos novos candidatos, e durante esse período, cinco, seis anos, fiz também aquilo que é os estudos de psicologia na área clínica, em um instituto em Lisboa, o ISPA.  

Depois, entretanto, os seminaristas escassearam e os meus superiores pediram-me para trabalhar numa paróquia em São Tomás de Aquino, Lisboa. Eu nunca tinha trabalhado numa paróquia, não tinha motivação, nunca tinha pensado nisso, mas claro, também por obediência, aceitei ser pároco. Na verdade, foi uma experiência extraordinária, de 12 anos, e aprendi a ser padre. Conheci pessoas extraordinárias, pessoas que eu considero até um exemplo de vida cristã, santos, irmãos santos, que me inspiram a viver o cristianismo.

No final desses 12 anos, fui eleito Provincial dos Vicentinos em Portugal, a nível nacional, e no final do segundo ano, numa Assembleia Geral da Congregação em Roma (temos assembleias de 6 em 6 anos), os meus confrades, que são representantes das 97 províncias que há no mundo, províncias e regiões, elegeram-me assistente-geral, conselheiro do superior-geral. 

Nestes últimos três anos, eu era conselheiro-geral, e estava encarregado de acompanhar as províncias, por exemplo, do Brasil (temos três províncias no Brasil), temos uma vice-província em Moçambique, temos uma comunidade em Angola, era encarregado do México, Costa Rica, Honduras, Espanha, Áustria e Alemanha. Portanto, o meu trabalho era acompanhar, visitar essas províncias, essas comunidades, e depois fazer o relatório, apresentar, no fundo, as informações sobre essa realidade.

Foi uma experiência muito rica para mim, porque deu-me uma visão do que é a Igreja. Como sabe, às vezes tendemos a absolutizar aquilo que é a Igreja no nosso lugar, na nossa paróquia, achamos que a Igreja é isto, e quando fazemos uma experiência dessas, percebemos que a Igreja não é só isto, é muito mais, é outra coisa, que por vezes eu desconheço totalmente. Portanto, foi uma experiência muito rica¡±, diz D. Nélio.

Nesta entrevista à Arquidiocese de Braga, D. Nélio Pita declara estar ao serviço querendo aprender com todos, com o arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, com D. Delfim Gomes, bispo auxiliar de Braga, com o clero local e, em particular, com o povo. ¡°Quero ouvir o povo¡±, afirma.  

¡°Não tenho nenhum truque, não tenho nenhum segredo, não venho com nenhum plano na cabeça. Em primeiro lugar, quero aprender com os meus colegas, e acho que tenho excelentes mestres, D. José e D. Delfim, o clero, quero aprender com eles. 

Quero aprender com o povo, quero ouvir o povo. E quero aprender também amando. Quero amar esta comunidade, porque se não amarmos, tudo isto será uma experiência penosa para mim e para eles. Querem amar, e sinto-me já encantado por esta realidade.

Depois, colocar-me ao serviço. Se me pedirem para trabalhar ali, ou nesta área, não tenho a pretensão de fazer seleção. Ah, eu só vou trabalhar nesta área, ou quero fazer isto, ou quero dizer isto. Não, estarei disponível. Este é o meu sentido de missão, completamente disponível, para que a Igreja, através dos meus colegas, sacerdotes, bispos, faça o discernimento, em que eu também possa de alguma forma participar nesse discernimento, e dar o meu contributo. 

Evidentemente que não deixarei de ser missionário. Sou de uma congregação missionária, e existe essa inquietação em mim. E preocupa-me que uma igreja que seja muito instalada, uma igreja que seja apenas uma espécie de fotocopiadora, que repete rotinas. Estou interessado, de alguma forma, em introduzir ou dar um contributo para este dinamismo missionário da diocese, que acho que é necessário.

Por outro lado, um olhar, como já falámos, em relação às periferias, como vicentino. Procurarei dar esse contributo de uma forma concreta, na medida do possível, em coordenação com aquilo que é o programa que vai ser estabelecido por toda a diocese¡±, sublinha.

A Arquidiocese de Braga é constituída por 551 paróquias que servem aproximadamente 850 mil habitantes, assumindo ainda a Paróquia de Santa Cecília de Ocua, em Moçambique.

Laudetur Iesus Christus

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21 julho 2025, 09:36