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Cardeal Spengler: "a crise ecol¨®gica nos desafia a repensar o bem comum¡±

Dom Jaime Spengler, presidente da Confer¨ºncia Nacional dos Bispos do Brasil, abordou os desafios clim¨¢ticos em evento em Roma. Ele enfatizou a necessidade de transi??es justas, que v?o al¨¦m de normas e leis, utilizando uma boa espiritualidade para sustentar essas mudan?as. Destacou a gravidade da crise clim¨¢tica, citando exemplos de evacua??o de ilhas no Pac¨ªfico e a migra??o for?ada devido a conflitos e mudan?as clim¨¢ticas. Ele conversou com a R¨¢dio Vaticano.

Silvonei José ¨C Vatican News

Recebemos nos estúdios da Rádio Vaticano ¨C Vatican News o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, e do CELAN, e arcebispo de Porto Alegre, cardeal Jaime Spengler. Numa ampla conversa com Silvonei José, dom Jaime ¨C hóspede do Programa Em Romaria - falou de sua passagem por Roma, sobre a questão climática e sobre a realidade da fé no nosso Brasil.

¡°Estamos aqui - disse dom Jaime -, para um evento promovido pela Embaixada da Colômbia, junto à Santa Sé, em comemoração ao aniversário das relações diplomáticas entre Colômbia e Santa Sé. E para o evento se pediu que, a partir do CELAN, nós abordássemos os desafios que estamos vivendo em torno da questão climática, hoje. Não só no continente, mas também atentos àquilo que a Igreja no continente vem fazendo frente a esse desafio que se apresenta a nós todos¡±. Dom Jaime fez uma lectio magistralis durante o colóquio.

O evento, organizado pela Embaixada da Colômbia junto à Santa Sé por ocasião dos 190 anos de relações diplomáticas entre os dois Estados, foi realizado na Aula Magna da Pontifícia Universidade Gregoriana, com moderação de Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, e a participação de acadêmicos como María Adelaida Farah Quijano, vice-reitora acadêmica da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia, e o padre Adelson Araújo dos Santos, professor da Gregoriana. O evento também evocou o recente décimo aniversário da encíclica ¡°Laudato si'¡± do Papa Francisco e a preparação da COP30 em novembro de 2025 no Brasil.

Em seu discurso o presidente do Celam destacou que "a crise ecológica nos desafia a repensar o bem comum e a cultivar o diálogo social em torno da ecologia integral", em uma época em que "há muito pouco diálogo ao nosso redor, muitas vezes substituído por gritos", como disse o Papa Leão XIV, e na qual o cardeal Spengler lembrou que "há muito pouco diálogo ao nosso redor, muitas vezes substituído por gritos", como disse o Papa Leão XIV.

Perguntamos a dom Jaime sobre transições justas. O que são as transições justas? ¡°Aqui, - disse ele ¨C eu acho que nós precisamos compreender os termos. O que é justo? O que nós compreendemos quando dizemos justo? Certamente não se trata simplesmente da aplicação de normas, princípios ou leis que temos e que regem as relações entre governos e no seio das diversas sociedades. É mais do que isso. A medida boa que nós precisamos encontrar, falando da questão climática, para que as futuras gerações possam ter o necessário para viver com dignidade. Depois, transição diz de um movimento, de um caminho. Creio que as sociedades, ou a sociedade como um todo, precisa realizar um caminho em vista desta boa medida em torno da questão climática que nós, como sociedade, precisamos encontrar. Estamos num momento crítico da história, sabemos, os dados das ciências são inegáveis, as tragédias climáticas se multiplicam, e precisamos sim de mulheres e homens, não só políticos, eu diria estadistas, capazes de realmente promover e construir indicações necessárias para fazer frente à realidade que nos confronta¡±.

E o papel da Igreja, então, nesse processo? ¡°A Igreja tem um papel todo próprio. Primeiro, eu diria pela capilaridade da presença, mas não somente isto. Todo esse processo de transição justa, eu creio, só vai acontecer de uma forma realmente justa se for sustentado pela mística e pela espiritualidade. Sem uma boa mística, sem uma boa espiritualidade, podemos até avançar... na questão. Mas não sei se teremos fôlego suficiente para ir mais além¡±.

Na sua fala, o senhor advertiu que o tempo presente parece indicar que o mundo que nos acolhe está desmoronando, apontando que as mudanças vertiginosas e a degradação ambiental e social se manifestam tanto em catástrofes naturais quanto em crises sociais e econômicas. ¡°Aqui há vários elementos que poderíamos considerar. Recentemente, por exemplo, conversando com os bispos da Ásia, nos diziam que há ilhas no Pacífico, na região do continente asiático, que estão sendo evacuadas porque o nível da água dos mares está subindo. Isso é um fato, é uma realidade que não tem como contestar. E é sinal da crise climática que vivemos. Esse é um dado. Um segundo dado que eu penso vale a pena ter presente é aquilo que o Papa Francisco, em diferentes momentos do seu magistério, teve a coragem de abordar de forma pública. Nós estamos vivendo uma terceira guerra mundial aos pedaços. E isso traz consequências também neste âmbito. Temos aí uma migração forçada acontecendo. E isso certamente nos preocupa. Uma migração forçada à causa dos conflitos e à causa também das mudanças climáticas. E um terceiro elemento que eu ressaltaria neste contexto, e aí vem o caminho que todos devemos fazer, é que encontramos essa crise das democracias que testemunhamos em várias partes do globo, sobretudo na nossa América Latina, e que exigem respostas ao conflito, à altura. Se me permite, no contexto latino-americano, nós temos aí a situação do Haiti, um país que foi esquecido pelas instituições internacionais. Está nas mãos de gangues. Temos a situação da Nicarágua. Temos a situação na Venezuela. Por que não dizer também no Brasil e na Argentina? São realidades que preocupam, sim. E nós só podemos construir o novo que desejamos em espaços de escuta, diálogo e construção. Em outras palavras, num estado democrático de direito¡±.

Ouça na íntegra a entrevista com dom Jaime:

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12 junho 2025, 14:42