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Os autores do artigo quando encontraram o Papa Francisco na Arena da Paz 2024 Os autores do artigo quando encontraram o Papa Francisco na Arena da Paz 2024   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Fazer ou n?o fazer a guerra. Temos sempre uma escolha

A reflex?o dos dois ativistas, um palestino e um israelense, que participaram da Arena da Paz 2024 em Verona, na It¨¢lia: "Para aqueles que vivem longe desta guerra, na It¨¢lia, Europa, Am¨¦rica Latina ou em outros lugares, ela pode parecer distante. Mas isso ¨¦ uma ilus?o perigosa. Como nos lembrou Martin Luther King Jr.: ¡°a injusti?a em qualquer lugar ¨¦ uma amea?a ¨¤ justi?a em todos os lugares¡±. A guerra nunca ¨¦ contida. Suas chamas ultrapassam as fronteiras."

Aziz Abu Sarah e Maoz Inon

Somos dois operadores de paz, um palestino e um israelense, que enterraram familiares devido à guerra e à violência. Conhecemos os custos. Conhecemos o peso insuportável. Conhecemos o silêncio do luto, a dor da ausência e a devastação que a violência deixa para trás. É por isso que hoje levantamos nossas vozes: para implorar pela paz e dizer, de forma inequívoca, que essas guerras devem acabar. A guerra que se intensifica entre o Irã e Israel, somada ao altíssimo custo em vidas e destruição em Gaza, não ameaça apenas as pessoas da nossa região, mas a consciência moral do mundo inteiro. Muitas pessoas inocentes são arrastadas por uma tempestade que não escolheram. No entanto, aqueles que detêm o poder continuam a escolher a guerra.

A violência não é um sinal de força. É o fracasso da imaginação e da orientação moral. A guerra é a decisão tomada por aqueles que esgotaram a sabedoria e a compaixão. Ela reflete incompetência e falência moral. Os líderes que continuam a insistir na ilusão de que as bombas trazem segurança ou que o domínio gera paz não deveriam ser encarregados de moldar nosso futuro. E então dizemos: sabemos que existe uma alternativa. Nós somos a prova viva disso. Sabemos que nosso futuro está entrelaçado e que não estamos destinados a ser inimigos para sempre. Não apenas outro caminho é possível, mas também é o único caminho moral.

No último ano e meio, encontramos muitos iranianos que se juntaram ao nosso trabalho pela paz. São pessoas comuns que, como nós, anseiam pelo fim da violência. Nos últimos dias, com a intensificação da guerra, recebemos ainda mais mensagens de iranianos na Europa, nos Estados Unidos e no próprio Irã. Eles pedem que o ciclo de destruição pare. Suas vozes são claras: eles não querem esta guerra.

Uma das mensagens dizia:

¡°Escrevoa vocês do Irã, do coração de um povo que conhece a dor da guerra, mas que continua a sonhar com a paz. Quero agradecer-lhes porque são uma voz de esperança, porque falam quando seria mais fácil calar e porque acreditam na humanidade mesmo quando parece que o mundo está se desmoronando¡±. Não estamos sozinhos. Não somos uma minoria. Essas vozes de paz ultrapassam as fronteiras e devem ser amplificadas.

Sabemos bem que as pessoas em Israel, na Palestina e no Irã não são definidas pela violência. As nossas comunidades são ricas em história, resiliência e criatividade. Mas hoje essa criatividade é consumida pelo conflito. Imaginem o que poderíamos construir, que beleza poderíamos oferecer ao mundo, se redirecionássemos a nossa energia para a paz. Este é o momento de nos levantarmos. Todos nós que acreditamos na justiça, na igualdade, na reconciliação e na dignidade humana devemos nos levantar das ruínas deixadas pelo fracasso político. Devemos nos levantar no espírito de nossas tradições de fé comuns ¨C judaica, cristã, muçulmana ¨C que ensinam a sacralidade da vida e a necessidade da paz.

As Escrituras Sagradas são claras: ¡°Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus¡±. Somos chamados a ser esses filhos. Nossa fé não é uma arma. É uma ponte. Deve nos unir, não nos dividir.

Para aqueles que vivem longe desta guerra, na Itália, Europa, América Latina ou em outros lugares, ela pode parecer distante. Mas isso é uma ilusão perigosa. Como nos lembrou Martin Luther King Jr.: ¡°a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares¡±. A guerra nunca é contida. Suas chamas ultrapassam as fronteiras, levando o mundo mais perto da catástrofe. Foi assim que o mundo entrou em guerra no passado.

Como nos disse o Papa Leão XIV quando o encontramos há duas semanas: ¡°porque o caminho para a paz envolve todos e leva a incentivar as relações justas entre todos os seres vivos. Como salientou João Paulo II, a paz é um bem indivisível. Ou é um bem de todos ou não é de ninguém¡±. 

Já estamos vendo os primeiros sinais de alarme. Da Índia e do Paquistão à Coreia do Norte, de Gaza ao Sudão e ao Iêmen, da Ucrânia e da Rússia à República Democrática do Congo. Cada novo conflito nos aproxima mais do abismo. Alguns acreditam que a guerra impedirá que o pior aconteça. Mas a história nos ensina o contrário. Cada guerra torna a paz mais frágil. Cada guerra nos aproxima mais da devastação nuclear. É por isso que acreditamos no desarmamento nuclear total. Não apenas para o Irã ou para Israel, mas para todas as nações. Não há justificativa moral para nenhum país possuir armas capazes de destruir a vida na Terra.

A cada dia, o sofrimento se torna mais profundo. Gaza está sendo destruída. A Cisjordânia enfrenta uma violência sem precedentes. Famílias israelenses e iranianas vivem sob a ameaça constante de mísseis e ataques aéreos. Esta guerra não isola; ela conecta. Conecta dor com dor, morte com morte. Nós, porém, acreditamos que podemos conectar esperança com esperança e humanidade com humanidade.

¡°Estamos com raiva. Estamos com medo. Nossa raiva e nossa dor são profundas e poderosas como uma força nuclear, e seria fácil usá-las para destruir. Em vez disso, decidimos transformá-las em luz. Canalizamos nossa fúria, nosso medo e nosso luto para algo sagrado: para a diplomacia, a cura e a paz.¡±

Não somos neutros. Não somos vítimas distantes. Somos testemunhas. Somos sobreviventes. Falamos agora porque sabemos exatamente o que a guerra traz. E nunca se trata de paz duradoura. Mas também sabemos outra coisa: sempre podemos agir. Podemos buscar vingança ou podemos abraçar a reconciliação. Podemos seguir a lógica das armas ou a lógica da diplomacia. Podemos permanecer prisioneiros da história ou podemos moldar um novo futuro.

Hoje falamos como pessoas de fé. Não porque a fé nos isenta da responsabilidade, mas porque ela a exige. A verdadeira fé não é passiva. Ela age. Ela constrói. Ela protege a vida.

Como nos disse o Papa Francisco no ano passado na Arena da Paz em Verona: ¡°A paz nunca será fruto da desconfiança, fruto de muros, de armas apontadas uns contra os outros. São Paulo diz: 'cada um colherá o que semear'¡±. Não semeemos morte, destruição ou medo! Vamos semear esperança!

Somos fiéis à visão do Papa Francisco e, mesmo nos momentos mais sombrios, escolheremos semear esperança e trabalhar pela paz.

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A Arena da Paz 2024 em Verona
23 junho 2025, 12:51