ÐÓMAPµ¼º½

Busca

Crian?as observam posto de gasolina destru¨ªdo ap¨®s um ataque israelense no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, em 20 de maio. (Foto de Eyad BABA / AFP) Crian?as observam posto de gasolina destru¨ªdo ap¨®s um ataque israelense no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, em 20 de maio. (Foto de Eyad BABA / AFP)  (AFP or licensors)

Pe. Romanelli: popula??o de Gaza se sente abandonada, sem esperan?a

O p¨¢roco da Sagrada Fam¨ªlia relata a total falta de ajuda, que n?o chega ¨¤ Faixa de Gaza h¨¢ tr¨ºs meses, bloqueada pelo ex¨¦rcito israelense. A pequena comunidade crist? abrigada na par¨®quia continua resistindo e rezando. "Somos gratos ao Papa Le?o XIV por suas palavras e o sentimos pr¨®ximo."

Roberto Cetera ¨C Cidade do Vaticano

"Mais do que a falta de comida, água potável, medicamentos, mais do que o perigo para a nossa segurança, preocupa-me que a esperança não seja  perdida. A esperança de que termine esta maldita guerra, de que volte a paz, de que possamos permanecer nesta terra e reconstruir as casas destruídas, de que nossa pequena e resiliente comunidade cristã possa continuar a ser testemunha do Ressuscitado." Esse foi o tom com que o Pe. Gabriel Romanelli, pároco da Sagrada Família em Gaza, falou com a mídia vaticana por telefone.

"A esperança está desaparecendo, porque aqui as pessoas se sentem consideradas e tratadas como objetos, não como sujeitos com direitos. Objetos que podem ser movidos ao bel prazer. A grande maioria dos habitantes de Gaza são civis, que não fazem parte do conflito armado. Nossa comunidade deve resistir porque um sinal da presença cristã deve permanecer em Gaza", acrescenta.

 

Padre Gabriel, qual é a situação da comunidade cristã que está refugiada no complexo paroquial há quase 20 meses?

Graças à ajuda que nos chega da Igreja e de muitos amigos ao redor do mundo, conseguimos até agora ajudar não apenas as nossas, mas dezenas de milhares de famílias que, independentemente de sua religião ou região de origem, buscam ajuda por meio de nós. Agora, porém, há quase três meses, não recebemos nada de fora da Faixa de Gaza: toda a ajuda, seja comida, água ou remédios, está bloqueada na entrada pelo exército israelense. Mas tínhamos muitas dessas coisas armazenadas e, racionando-as, conseguimos sobreviver, só que agora não podemos mais ajudar fora da nossa comunidade. Ainda temos um pouco de farinha para fazer pão, mas temos que peneirá-la várias vezes porque está cheia de bichos, e precisamos sempre purificar a água para evitar doenças. Encontramos vegetais de alguns agricultores ou em algumas barracas improvisadas, mas são muito caros. Uma única cebola custa em média 10 euros; os tomates são um pouco mais baratos: o quilo custa mais de 15 euros. Por isso, agora temos de administrar com muita sabedoria os nossos suprimentos que restam para os nossos quase 500 refugiados, incluindo as cerca de 50 crianças acolhidas pelas irmãs de Madre Teresa. Não conseguimos encontrar fraldas em toda a Faixa, embora sejam absolutamente necessárias para os mais pequenos e os idosos; quando estavam disponíveis, não custavam menos de 3 euros cada. A situação com os medicamentos é desesperadora, porque também ficamos sem suprimentos. E isto é especialmente grave para os doentes crônicos, os doentes cardíacos, os hipertensos, os diabéticos, que já não têm qualquer tratamento. Para onde quer que se olhe, vê-se necessidade. Mas, acima de tudo, ninguém é capaz de saber hoje o que será da vida de 2 milhões e 300 mil habitantes. E é esta incerteza que gera a perda da esperança. Sentem-se abandonados por todos, sentem que só Deus se importa com o seu destino".

São ouvidas explosões perto de onde vocês estão?

Sim, com frequência. Esta manhã (ontem, ndr.) ainda algumas, porque parece que estão concentradas mais ao norte. Mas sempre as ouvimos e frequentemente chegam estilhaços, mesmo grandes. Há uma situação surreal de "hábito". Enquanto falamos, as crianças estão brincando aqui fora, no oratório; se ouvissem explosões, mesmo por perto, continuariam brincando. Porque o perigo está entregue ao destino. Se caças-bombardeiros israelenses passam, as pessoas buscam refúgio em ambientes fechados, esperam alguns minutos até que alguns estilhaços caiam e depois saem novamente para continuar sua vida normal. O horror se tornou um hábito. O mesmo acontece na igreja: estamos todos rezando juntos, de repente estilhaços caem no telhado ou as janelas se abrem repentinamente devido ao movimento do ar, mas continuamos a rezar, o que, com esse hábito, nos dá mais segurança do que fugir".

 

Por muitos meses, vocês foram confortados pelos telefonemas diários do Papa Francisco à noite. Agora temos o Papa Leão XIV. O que vocês esperam do novo Pontífice?

O chamado de Francisco às 20h para nós passou a ser definido como "hora do Papa". Continuamos a tocar os sinos com a Ave Maria todas as noites às 20h para nos lembrarmos desses chamados, e há aqueles que, ouvindo os sinos, continuam a gritar "Boa noite, Santo Padre", porque a sua presença permanece entre nós. O que o Papa Francisco fez por nós é absolutamente extraordinário e sem precedentes na história. Agora, com o Papa Leão XIV, imediatamente nos sentimos encorajados a resistir quando ¡ª colocamos a tela na igreja e, felizmente, naquela noite havia eletricidade e internet ¡ª ele iniciou seu ministério com suas primeiras palavras de invocação pela paz. Estávamos todos juntos, católicos e ortodoxos, e também muitos amigos muçulmanos, felizes em ouvir o novo Papa pedir paz. Para Gaza e para o mundo.

Padre Gabriel, o senhor gostaria de aproveitar esta oportunidade desta entrevista para enviar uma mensagem ao Papa Leão?

Certamente, quero dizer a ele que somos muito gratos por suas palavras de paz e que toda a comunidade está rezando por ele. E não só nós, mas católicos, ortodoxos e muçulmanos sabemos que eles têm um pai. A proximidade do Papa Francisco representou a proximidade de toda a Igreja. E continuamos a senti-la com o Papa Leão. Que é o sucessor de Pedro, pai da Igreja e pai de todos. De todos.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp

21 maio 2025, 11:36