Semin¨¢rio debate Sustentabilidade Ambiental e defesa da democracia
Por Pe. Gerson Schmidt*
¡°Desenvolver projetos de educação para sustentabilidade ambiental, especialmente com crianças e adolescentes, nas escolas, centros sociais e nas atividades pastorais¡±. Este é um dos propósitos da Família de São José da América Latina e Caribe para os próximos cinco anos. Essa diretriz foi assumida durante o 8º Seminário Latino-Americano e Caribenho da Rede da Família São José, que iniciou na segunda-feira, 6 de janeiro de 2025, na cidade de Cochabamba/Bolívia.
O evento reúne até a próxima sexta-feira, 10 de janeiro, oitenta e quatro leigos, leigas e religiosas de onze congregações da Argentina, Brasil, Chile, Bolívia, Estados Unidos, Perú, México, Porto Rico e Uruguai e observadores da Itália e da Índia. Entre os participantes leigos estão, professores, empresários, jornalistas, assistentes sociais e outros profissionais identificados com o carisma das Congregações de São José. Durante o seminário, estão sendo tratados temas de mudanças climáticas, defesa da democracia, mística e profecia, sinodalidade e cooperação missionária.
O jornalista brasileiro, Elton Bozzetto, apresentou o tema ¡°Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, com dados atualizados e estratégias urgentes para reverter o impacto negativo das mudanças climáticas. ¡°Já ultrapassamos o estágio do aquecimento global e estamos vivendo o período de mudanças climáticas, resultantes da intervenção humana no ambiente natural¡±. As fortes chuvas de 600 milímetros em menos de 6h, no mês de setembro de 2024, no deserto de Marrocos, e 142 milímetros em 48h no mês de abril em Dubai, são exemplos do desequilíbrio climático global.
Para Bozettto, esse desequilíbrio é resultado das altas taxas de emissões de Gás Carbônico(CO2). ¡°O mundo gera por ano 221 gigatoneldas de gás carbônico, enquanto a capacidade de absorção em todo o planeta é de apenas 215 gigatoneladas. Essa equação mostra o forte desequilíbrio ambiental¡±. Ele mencionou o retrocesso nos compromissos assumidos no Acordo de Paris, quando as nações ricas se comprometeram a reduzir 43% as emissões de CO2 até 2025. O efeito segue em contrário do acordo. ¡°Segundo os institutos científicos que fazem o controle global das emissões, houve um aumento entre 5 e 7% ao ano¡±, disse o assessor.
Ele propôs a realizar dois movimentos de atuação na perspectiva da sustentabilidade ambiental. Primeiro, promover iniciativas pessoais, familiares e comunitárias de separação e reciclagem de resíduos e uso de energias limpas. Segundo, fazer a incidência política na defesa de programa de transição energética e de uso de fontes sustentáveis de energia elétrica. ¡°É fundamental a adoção de novos modelos de produção, desenvolvimento e consumo, baseados na produção agroecológica, no consumo de alimentos limpos, na redução do desperdício na colheita e transporte de alimentos e na adoção de programas de uso de energias renováveis nos processos produtivos, como estratégias para promover a ecologia integral.
Defesa da Democracia
O Coordenador da Fundação Jubileu, Juan Carlos Nuñez Viduarre, apresentou análise da situação econômica e política dos países do continente americano. Ele assinalou que as economias da América Latina e Caribe precisam crescer em torno de 5% ao ano para responder e manter os investimentos em programas de desenvolvimento social, a fim de superar o círculo vicioso de geração da pobreza. No entanto, o crescimento tem ficado em torno de 1% ao ano. ¡°Essa situação tem impedido o desenvolvimento social e o atendimento dos direitos básicos da população¡±, disse Juan Carlos. As pessoas estão encontrando na informalidade da economia a sua sobrevivência. Na Bolívia, por exemplo, 80% da economia é informal. Juan Carlos assinalou ainda que a democracia no continente está sob risco, em razão dos movimentos políticos radicais e a ideologia da autocracia, que influenciam posições populares contrárias ao poder democrático. ¡°Necessitamos atuar na educação para a cidadania, os direitos humanos e o civismo, a fim de garantir a sobrevivência da democracia¡±. O especialista também indicou o fortalecimento dos organismos de representação e participação da sociedade para o controle do Estado e a construção e proposição de políticas públicas na área do desenvolvimento social como instrumentos de fortalecimento das relações democráticas.
Mística e Profecia
Ao tratar do tema da Mística e Profecia, a teóloga estadunidense, Mary Mcglone, fez eco à temática do cuidado com o planeta. Ela firmou que ¡°no universo não há centro, nem periferia. Todos estão próximos uns dos outros. Cada ação tem efeito em tudo. Ou seja, tudo está inter-relacionado¡±. Ela afirmou que, com a COVID, pela primeira vez o mundo experimentou uma epidemia para todo o mundo. ¡°Do mesmo modo, as mudanças climáticas estão afetando todo o mundo. Está mudando todo o mundo, porque tudo está relacionado¡±.
Para Mcglone, todo membro da Família São José deve atuar no mundo inspirado no amor trinitário porque por ele tudo foi criado. ¡°Tudo o que existe participa da vida trinitária. Porque Deus é trinitário as pessoas são inter-relacionadas. Nós também à imagem e semelhança de Deus vivemos intensamente relacionados. Esta inspiração deve orientar a atuação na sociedade. É a razão de nosso compromisso obrigatório e solidariedade com a situação das outras pessoas vulneráveis¡±.
A assessora ainda acentuou que sem mística a profecia sofre, fica limitada. E, sem profecia nossa espiritualidade perde seu sentido, porque se concentra nos interesses pessoais. A teóloga lembrou o pensamento do filósofo Teillard de Chandin, que ¡°Deus não seria Deus se não fosse pela criação¡±, para lembrar que o cuidado da casa comum é responsabilidade intrínseca ao ser humano, porque foi criado à imagem e semelhança Dele.
Uma presença importante no seminário é a CSJ/ONU, uma Organização Não-Governamental que tem assento na Organização das Nações Unidas, através de sua diretora Barbara Bozak. O seminário aprovou o fortalecimento da conexão com a CSJ (Congregações de São José) para apresentar na ONU as pautas do desenvolvimento econômico e social da América Latina e Caribe, que asseguremos direitos básicos das populações vulneráveis e amplie os programas de sustentabilidade ambiental para frear as mudanças climáticas.
*Pe. Gerson Schmidt - Jornalista e colaborador da Rádio Vaticano/Vaticannews
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