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Frei Darlei: Escutar com o cora??o!

A verdadeira comunica??o existe apenas quando baseada na escuta, pois ¨¦ na capacidade de escutar, ou seja, no perceber realmente o que o outro diz e pensa, que se alicer?a a constru??o da proximidade.

Frei Darlei Zanon - Religioso Paulino

¡°Só se escuta bem com o coração, o essencial é inaudível ao ouvido!¡± Essa poderia ser uma nova versão da famosa frase do Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, no entanto é a expressão que ecoa na minha mente após ler e meditar a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações deste ano 2022, publicada no último 24 de janeiro, memória de São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas e dos comunicadores católicos.

Depois de ¡°ir¡±, ¡°ver¡±, ¡°narrar¡± ¨C que caracterizaram a mensagem do ano passado ¨C agora Francisco destaca outro verbo fundamental na gramática da comunicação: ¡°Escutar¡±. E escutar é muito mais do que ouvir, enfatiza o Papa, pois requer proximidade e conduz ao diálogo. Ouvir é um ato físico, deixa-nos na aparência, na superfície, na simples conexão; enquanto o escutar é ato simbólico, comunicativo, de interpretação, que nos conduz à profundidade das questões e das relações. Muitas vezes corremos o risco de ouvir sem escutar, falar sem dialogar. ¡°Só prestando atenção a quem escutamos, àquilo que escutamos e ao modo como escutamos e? que podemos crescer na arte de comunicar¡± porque, sublinha o Papa, ¡°no fundo, a escuta e? uma dimensão do amor¡±.

A verdadeira comunicação existe apenas quando baseada na escuta, pois é na capacidade de escutar, ou seja, no perceber realmente o que o outro diz e pensa, que se alicerça a construção da proximidade, um dos conceitos-chaves de todo o pontificado de Francisco, juntamente com ¡°encontro¡± e ¡°diálogo¡±. Ao escutar, encontramos o outro, saímos de nós mesmos, superamos o individualismo e nos tornamos comunidade/comunhão. A verdadeira comunicação, portanto, depende da escuta, não é redutível à simples troca de mensagens, não é uma simples transferência de informações ou dados. Não basta transmitir ou publicar para comunicar, assim como não é suficiente estabelecer um contato com o outro (um ¡°like¡±, por exemplo) para nos relacionarmos.

Não por acaso, na mensagem o Papa fala de um ¡°apostolado da escuta¡±, fundamental na ação pastoral. Apostolado profundamente ¡°paulino¡± eu acrescentaria. Não só porque Paulo afirma que ¡°a fé nasce da escuta¡± (Rm 10,17), mas sobretudo porque esta era uma das suas estratégias no processo de evangelização. Antes de falar, Paulo escutava. Antes de fundar uma comunidade, ia ao encontro e escutava os seus interlocutores. Antes de dar orientações, escutava as necessidades dos batizados. Antes de escrever suas cartas, escutava os problemas concretos que afligiam as comunidades. Quanta falta faz-nos escutar hoje, seja na nossa vida familiar e profissional, sobretudo na nossa presença nas redes sociais.

O Papa nos alerta ainda para o fato de que o diálogo que brota da escuta é o ponto de partida também para a superação da intolerância, outra característica forte da nossa sociedade que perdeu a capacidade de escutar. Só através do diálogo podemos crescer e mudar de opinião ou de postura, só dialogando (abrindo nosso coração ao ¡°outro¡±, ao diferente, ao migrante...) podemos melhorar, evoluir, nos superar, nos enriquecer cultural, intelectual e espiritualmente. ¡°Jesus foi um homem de diálogo e de encontro¡±, recordava o Instrumentum laboris do Sínodo para a Amazônia. Nesse mesmo documento se enfatizava que ¡°o contrário do diálogo é a falta de escuta e a imposição que impedem de nos encontrarmos, de comunicarmos e, portanto, de convivermos¡± (n. 36).

Além da abertura ao outro, o Papa recorda na mensagem deste ano que ¡°a escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade¡±. Quantas vezes preferimos as fake news que nos convém ao invés da verdade que nos questiona! Para construir uma comunicação autêntica é preciso aceitar a verdade que brota do diálogo, mesmo que esta seja incômoda e não nos agrade. São Paulo é um grande mestre também nesse quesito. O modo como ele se confrontava com as suas comunidades ¨C e até mesmo com os outros apóstolos como vemos no episódio do Concílio de Jerusalém (cf. Atos 15) ¨C, buscando o crescimento mútuo, pode nos iluminar nas nossas relações, na prática pastoral e sobretudo no processo sinodal que estamos vivendo. ¡°Com efeito ¨C afirma o Papa ¨C, a comunhão não e? o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia.¡±

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15 fevereiro 2022, 14:43