Irm? Eurides: Sinodalidade, um chamado ¨¤ profecia coletiva!
Irmã Eurides Alves de Oliveira
Estamos todas e todos esperançosas e esperançosos com a primaveril Boa Nova da sinodalidade proposta pelo Papa Francisco, como uma oportunidade de revitalizar a vivência do evangelho de Jesus de Nazaré, das Primeiras Comunidades Cristãs e da eclesiologia da Igreja Povo de Deus, cunhada pelo Concilio Vaticano II e assumida de forma tão peculiar pela Igreja Latino Americana nas Conferencias Episcopais, nas CEBs, Pastorais sociais e outras iniciativas coletivas e sociotransformadoras, como um caminho de mística e profecia a serviço da vida, nestes mais de 50 anos pós-Concílio. Uma eclesiologia de comunhão e participação, de fé e compromisso, permeada de avanços e recuos, luzes e sombras, lutas e resistências, realismo e utopias.
Nas últimas décadas, essa eclesiologia arrefeceu-se, cedendo lugar ao eclesiocentrismo hierárquico, à auto referencialidade e ao espiritualismo fundamentalista. Uma tríade de vírus, que tem adoecido a igreja, colocando em risco sua identidade-raiz: a missão profética. Neste cenário eclesial e com a humanidade imersa em uma pandemia global. O Brasil e o mundo sabotado por uma das maiores crises econômicas e convulsão política e social da história contemporânea. Um palco de guerra híbrida onde as violências, as fomes de pão e de direitos, as injustiças, a corrupção, as ¡°fake news¡±, intolerâncias e perseguições; o genocídio dos pobres, das mulheres, do povo negro e indígenas é planejado por uma ¡°necropolitica¡± estatal, a democracia é reduzida aos interesses das elites dominantes e a religião é instrumentalizada para incitar ao ódio, ao extremismo e ao fanatismo cego nas massas.
A proposta do Papa Francisco para que não só realizemos mais um Sínodo enquanto evento, mas que assumamos em todas as igrejas locais e espaços onde habitamos, o modelo de uma Igreja Sinodal em sua forma, estilo, missão é um eloquente chamado à Profecia coletiva. Uma profecia comunitária de irmãs e irmãos que caminham juntas/os e assumem a radicalidade de sua vocação de discípulas/os missionárias/a numa igreja em saída. Uma igreja de irmãs e irmãos que caminham juntas/os. Uma Igreja da escuta, do encontro, da comunhão e da participação ativa, onde todos são protagonistas.
Uma profecia que faz das ¡®alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles/as que sofrem, as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos/as de Jesus Cristo,(¡) numa Igreja que sente-se real e intimamente ligada á humanidade e à sua história¡¯ (cf.GS). Uma igreja que se dispõe a ouvir, acolher e deixar-se converter pelos clamores e vivências do povo, se envolve em suas lutas em prol da vida e da justiça social, pronunciando sempre uma palavra de esperança e tendo um posicionamento lúcido e firme diante das injustiças sociais e dos projetos de morte, mesmo que isto provoque reação e perseguições.
Neste horizonte da sinodalidade como profecia coletiva, neste amplo processo de escuta e consulta a todo o povo de Deus, proposto pelo Papa Francisco para o processo sinodal de 2021-2023, somos corresponsáveis em fazê-lo acontecer em nossas igrejas particulares, comunidades, pastorais e organismos diversos: devemos fomentar e participar ativamente das reflexões e iniciativas, sem medo do debate, contribuindo para o discernimento e acreditando nas possibilidades de mudança e na gestação de práticas renovadas de comunhão e participação.
No atual contexto histórico, à luz da Doutrina social da Igreja e da tradição latino-americana de uma Igreja sempre atuante na sociedade, assumindo as bandeiras de lutas do povo por vida, paz, justiça social e democracia e direitos, a prática da sinodalidade pede de nós, cristãs e cristãos, um pouco mais de ousadia, criatividade e coragem, invita-nos a ultrapassar os limites dos espaços eclesiais e interpela-nos a caminharmos juntas/os com as forças vivas de resistência, a sermos ¡°verdadeiros poetas e poetizas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos¡±.(cf. Papa Francisco aos MP).
A sinodalidade enquanto profecia coletiva na igreja e no mundo de hoje, particularmente no Brasil, neste cenário sistêmico de múltiplas pandemias e polarização política e religiosa, inclui como imperativo a articulação de todas as forças vivas do bem em prol de um novo projeto de sociedade que seja sinal do Reino de Deus. ¡°Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três T que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho. Espero que esse momento de perigo nos tire do piloto automático, sacuda nossas consciências adormecidas e permita uma conversão humanística e ecológica que termine com a idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro¡± (Papa Francisco aos MP).
Nesta missão, as CEBs são convidadas a recuperar seu papel polinizador da sinodalidade profética no interior de toda a igreja, lembrando-lhe que a revitalização de sua identidade de Igreja Povo de Deus, em diálogo com o mundo de hoje, é o modo autêntico dela ser a Igreja de Jesus, a Igreja dos pobres, a Igreja do Reino de Deus, página viva do Evangelho na história, memória perigosa dos profetas e profetizas de ontem e hoje.
Como você, sua comunidade, sua pastoral ou organismo se sente diante desta convocação à sinodalidade profética?
Fonte: Portal das CEBs
www.portaldascebs.org.br
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