Cardeal S¨¦rgio da Rocha: 470 anos da S¨¦ Primacial
Cardeal Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Salvador enquanto primeira diocese brasileira tem uma história longa e bela que necessita ser mais conhecida e valorizada. A decisão de criar uma diocese no Brasil significava o reconhecimento não apenas do crescimento da Igreja e de sua importância naquele momento, mas também do crescimento da população e da importância política do Brasil. Por isso, a relevância da criação da primeira diocese do Brasil não se restringe ao âmbito da Igreja Católica, revestindo-se de significado sociopolítico e cultural.
Pela bula pontifícia Super specula militantis Ecclesiae, de 25 de fevereiro de 1551, o Papa Júlio III criou a primeira diocese brasileira; por isso, chamada ¡°primacial¡± e seu bispo ou arcebispo denominado ¡°primaz¡±. O vasto território da nova diocese incluía todo o país. A comunidade católica, até então sob a autoridade do arcebispo de Funchal, na ilha da Madeira, tornava-se independente, enquanto diocese, tornando-se sufragânea de Lisboa, até ser constituída arquidiocese, pelo Papa Inocêncio XI, em 1676.
A história da diocese de São Salvador no Brasil, com suas alegrias e dores, está entrelaçada com a história da própria cidade, primeira capital do país. A decisão do Papa atendia ao pedido do rei de Portugal, Dom João III. Como Igreja Catedral da nova diocese, o Papa Júlio III designou a igreja do ¡°Santo Salvador¡± ou ¡°São Salvador¡±, então existente na povoação do mesmo nome. Ao celebrar os 470 anos de criação da primeira diocese do Brasil, estamos recordando também os 470 anos de reconhecimento de Salvador como ¡°cidade¡± e dos seus habitantes como ¡°cidadãos¡±, conforme consta na bula pontifícia, embora a fundação de Salvador tenha ocorrido com a chegada de Tomé de Sousa, em 1549.
Nestes 470 anos, Salvador contou com 08 bispos e 28 arcebispos, tendo sido seu primeiro bispo, Dom Pedro Fernandes Sardinha (1496-1556), do clero da diocese portuguesa de Évora. A história da Diocese de São Salvador não se restringe aos seus bispos, mas a atuação de cada um deles merece ser mais documentada, permitindo conhecer melhor o desenvolvimento histórico e cultural de Salvador e do Brasil.
Salvador tem muita história para ser recordada e conhecida, a começar dos próprios soteropolitanos e baianos. É preciso preservar a memória histórica, pois o seu esquecimento ou menosprezo implica na negação da identidade de um povo e na perda de um patrimônio inestimável. É preciso valorizar a vasta e rica história de Salvador, com especial atenção à criação e atuação da primeira diocese do Brasil. Entretanto, a comemoração dos 470 anos não se restringe a olhar para o passado, fazendo memória. É uma ocasião especial para assumir o presente com responsabilidade e esperança, em meio aos desafios sociais e pastorais. Somos chamados a conhecer e valorizar a rica herança cultural que recebemos e assumir o papel de sujeitos e não meros espectadores da história.
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