Diocese de Campos: pandemia e os efeitos na sa¨²de mental
Ricardo Gomes ¨C Diocese de Campos
O avanço da pandemia em regiões na zona rural de Campos (RJ) e as primeiras vitimas da Covid-19 vem preocupando moradores de regiões pouco habitadas. Em Campos a região do Garrafão é um lugar tranquilo e com poucos moradores. Neste local o pecuarista Carlos Bernardo Tostes resolveu se refugiar para evitar o contato com o vírus. Mas a história teve um desfecho trágico. Recebendo visitas de familiares contraiu o vírus e acabou morrendo. Essa poderia ser uma das muitas historias, mas o efeito abalou toda a família e a irmã, Rita Tostes Mota está sofrendo os efeitos dessa perda. Abalada evita receber visitas e esta isolada em sua residência com medo. Esta é uma das muitas histórias.
¡°Nunca pensei que meu irmão saudável fosse ser vitima dessa doença. Parecia que estava se despedindo. Uns dias antes estava com ele acompanhando no preparo da terra. E já planejando preparar a festa de Nossa Senhora do Carmo. Ele era aquele irmão que estava comigo em todas as horas, mesmo aqueles momentos que alguém da nossa família precisava de ajuda¡±, disse Rita.
Além dos medos a preocupação passa pela experiência e vivencia religiosa. Saber o destino de uma pessoa que morre de forma prematura e que poderia ser evitada. Qual destino e será que após a morte a pessoa vai encontrar familiares falecidos. Questões que suscitam neste momento de dor. Rita Tostes achou na oração um refugio pela perda. Esse exemplo é de muitas famílias neste momento da perda de um familiar.
Maria da Graça Bairral Neves residente no Município de Aperibé relata que no inicio o isolamento foi complicado, mas atividades domesticas associadas a fé foram ajudando a vivenciar a atual situação. Em casa cuida das plantas, acompanha pelas redes sociais as noticias e ocupa o tempo preparando pães caseiros que vende e distribui a famílias de idosos, profissionais da segurança. E sente o isolamento social.
¡°Não tenho tempo para depressão e no inicio foi muito difícil. Hoje procuro ocupar meu tempo com as atividades domésticas já que estou sem empregada. Não sinto solidão, e antes rezava um terço, hoje rezo o rosário, acompanho o terço da misericórdia e as missas pelas redes sociais já que não posso participar das missas presenciais por ser do grupo de risco. Meu tempo é todo ocupado e faço pães caseiros que levo as pessoas em casa, idosos em isolamento social¡±, conta.
Dois casos que apresentam os efeitos da pandemia nas pessoas em isolamento social. As respostas a todas as situações representam um problema que se agrava. Ficar em casa e em isolamento social pode ser necessário uma resposta da igreja. Como ajudar as pessoas neste momento de incertezas. Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, bispo de Campos e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde dá dicas de como vivenciar esse tempo em que a sociedade vive apreensiva diante de um vírus com alto poder de letalidade.
¡°A Igreja através das suas pastorais deve trabalhar muito a comunicação interpessoal e a comunicação não violenta visando vencer bloqueios e fechamentos que destroem a autoestima e levam a depressão. Desenvolver uma educação afetiva despertando a escuta, empatia e compreensão promovendo uma autêntica cultura do Encontro e do Diálogo. Ajudar práticas e rituais que propiciem um crescimento na espiritualidade e confiança, abrindo para a oração e meditação tanto pessoal como familiar. A atenção a estes aspectos: comunicacional, afetivo e espiritual prepararão as famílias para superar conflitos, perdas e medos fortalecendo a resiliência pessoal e familiar¡±, relata Dom Roberto.
A Psicóloga Renata da Cunha Ladeira Almeida dá dicas para evitar os efeitos na saúde mental. Aceitar a realidade e as condições apresentadas neste momento de isolamento social não significa aceitar, mas tentar se adaptar.
¡°Precisamos aceitar o que não podemos mudar, mas perceber a realidade que não significa achar que esse momento seja bom. Isso pode ajudar a manter a nossa saúde mental E a partir daí criar estratégias funcionais para lidar com todas as emoções pertinentes deste momento, ou seja, nessa situação de isolamento social e de pandemia é normal que estejamos com medos, angustias e incertezas e tudo isso pode causar um mal estar e um desconforto emocional. O que acontece é que muitas vezes a expectativa de resolver problemas e situações eu acabo me envolvendo em outro ainda maior e vai se tornando uma roda gigante de problemas¡±, aponta Renata.
Para a psicóloga esse momento vira intolerância se a pessoa apelar para estratégias nada funcionais e para o uso abusivo de substancias para aliviar a situação que causa medos e incertezas. Apresenta algumas dicas que auxiliam a conviver com esse período com mais tranquilidade.
¡°São atitudes simples. Manter a rotina diária é uma opção e com autenticidade e em contato com pessoas de alto astral e com atividades que sejam prazerosas sem muita cobrança. É fundamental nunca se comparar a outras pessoas com exercícios físicos e relaxamento respiratório e tirar sempre um tempo para descansar e relaxar¡±, observa.
Apoio familiar na superação do isolamento
Aos 92 anos, Maria da Conceição Ramos sente o apoio da família. A filha Rita de Cássia Soares e o esposo Isalmar Soares se mudaram para ajudar a mãe neste tempo de isolamento social. Acolhida e cuidado ajudam a diminuir os efeitos deste tempo de medos e incertezas. A idosa sente o conforto e fala que esta tranquila mesmo com as ameaças da Covid.
¡°Vendo a situação de minha mãe aos 92 anos de idade a solução foi ficar com ela. E neste tempo que os idosos sentem a solidão temos de estar juntos cuidando e mostrando nosso amor e como são importantes. Minha mãe é muito forte, mas precisa de saber que não está só¡±, disse Rita de Cássia.
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