A ¡®controv¨¦rsia¡¯ sobre os irm?os de Jesus
Padre Leonardo Agostini - Rio de Janeiro
¡°Mais controverso é o episódio do Evangelho de Mateus que alude aos ¡®irmãos de Jesus¡¯. No fim do século IV, São Jerônimo, autor da ¡°Vulgata¡± ¨C a tradução latina das Escrituras que por séculos foi a única autorizada pela Igreja Católica ¨C , cravou a ideia de que a palavra grega seria vaga e, assim, poderia designar ¡®primos¡¯. Não, esclarece Lourenço na introdução, adelphoi significa apenas ¡®irmãos¡¯. O tema é especialmente delicado para a devoção católica a Virgem Maria: se Jesus tinha irmãos, sua mãe obviamente não se manteve sempre virgem.¡± (texto de uma revista não católica)
De tempos em tempos, alguém fica intrigado com a afirmação contida nos evangelhos sobre ¡°os irmãos e as irmãs¡± de Jesus. Estes são citados em dois episódios particulares: a família de Jesus em Mt 12,46-50, cujos paralelos se encontram em Mc 3,31-35; Lc 8,19-21 (Jo 7,3), e a visita de Jesus a Nazaré em Mt 13,53-58, cujos paralelos se encontram em Mc 6,1-6a; Lc 4,16-30.
Passagens bíblicas
Um olhar atento para o uso e o significado do termo ¡°irmão¡±, em grego ?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ??, que ocorre 38 vezes só no Evangelho Segundo Mateus, permite tecer diferentes considerações quanto ao tipo de vínculo ou de parentesco carnal ou espiritual. Vejamos alguns exemplos:
Mt 1,2 é a primeira ocorrência, e menciona que Jacó gerou Judá e seus irmãos (?¦Ï?¦Ä¦Á¦Í¦Ê¦Á?¦Ó¦Ï???¦Ä¦Å¦Ë¦Õ¦Ï??¦Á?¦Ó¦Ï?). Ora, basta ver Gn 29,15¨C30,25 para se descobrir que os irmãos de Judá não foram todos filhos da mesma mãe, pois Jacó gerou filhos, tanto através de Lia (Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulon e Dina) como de sua escrava Zelfa (Gad e Aser), e através de Raquel (José e Benjamim) e de sua escrava Bala (Dã, Neftali). Não obstante isso, o evangelista usou o mesmo termo grego ¡°irmãos¡± (?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ¦Ï??). São todos filhos do mesmo pai Jacó (cf. Gn 42,13), todos são irmãos de Judá, mas não são todos filhos das mesmas mães.
Mt 5,23-24 encerra uma sentença sobre o sentido da oferta feita ao altar de Deus. Esta não deve ser feita se existe uma contenda com ¡°o teu irmão¡± (??¦Ä¦Å¦Ë¦Õ??¦Ò¦Ï¦Ô), mas primeiro é preciso que haja a reconciliação. O termo ¡®irmão¡¯, aqui, pode ser entendido tanto no sentido de consanguíneo, como de membro da comunidade de fé, que é a destinatária do Evangelho de Mateus. O mesmo sentido pode estar subjacente a Mt 5,47 no contexto do ensinamento sobre o amor aos inimigos. Também em Mt 18,15.21.35, a palavra ¡®irmão¡¯ pode ter o sentido tanto de consanguíneo como de membro da comunidade de fé.
Mt 14,3 afirma que Filipe é ¡°irmão¡± (?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ¦Ï?) de Herodes Antipas. Ora, sabe-se que eram filhos do mesmo pai, Herodes Magno, mas não da mesma mãe. Herodes Antipas era filho de Maltace e Filipe era filho de Cleópatra (fonte: ¡°As dinastias Asmoneia e Herodiana¡±, Bíblia de Jerusalém p. 2189).
Mt 23,8 usa o termo ¡°irmãos¡± (?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ¦Ï?), claramente, com o sentido de membro da comunidade de fé, pois Jesus afirma que todos são irmãos e só tem a Deus como Pai celeste.
Mt 25,40 alude ao último julgamento, cujo critério decisivo é o uso da misericórdia, e deve ser entendido em relação a Mt 12,48-50, pois Jesus chamou seus seguidores de ¡°irmãos¡± (?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ?¦Í). E de forma mais restrita, após a sua ressurreição, referiu-se aos apóstolos como seus ¡°irmãos¡± (?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ¦Ï??) em Mt 28,10.
Jesus, filho de Maria
As deduções sobre ¡°os irmãos e as irmãs¡± de Jesus não podem ser feitas apenas observando o uso do termo ?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ?? e tampouco reduzindo-o apenas ao nível da consanguinidade. O critério decisivo está no simples fato de que só Jesus é dito ¡°o filho de Maria¡± (Mc 6,3) ou quando se diz ¡°tua mãe¡± (Mt 12,47), ou ¡°a mãe d¡¯Ele¡± (Mt 13,55). Dizer: ¡°teus irmãos e tuas irmãs¡± em referência a Jesus não significa dizer que esses são, necessariamente, filhos de Maria. Isto, pelo acima exposto, é uma dedução irrefletida, pois em momento algum ¡°os irmãos e irmãs¡± de Jesus são ditos ¡°filhos de Maria¡±. Se assim o fosse, não faria sentido Jesus, pouco antes de morrer, consignar Maria aos cuidados do discípulo amado (cf. Jo 19,25-27).
É preciso lembrar que o substrato cultural dos evangelhos é o mundo semítico e não o mundo greco-romano. Em hebraico e aramaico o termo ¡¯¨¡? possui uma extensão maior, podendo significar tanto irmão de sangue como parente próximo, primo e até tio (cf. Gn 13,8; 29,15; Lv 10,4). E pouco tem a ver com a ¡°Vulgata de Jerônimo¡± que manteve, coerentemente, ¡°frates eios¡± para a tradução de ?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ??em Mt 12,46 e 13,55. O fato dos evangelistas não usarem o termo ¡°parente¡± (¦Ò¦Ô¦Ã¦Ã¦Å¦Í??), como em Mc 6,4; Lc 1,58; 2,44; 14,12; 21,16; Jo 18,26 ou ¡°primo¡± (?¦Í¦Å¦×¦É??), única ocorrência em Cl 4,10, não tira o mérito do uso mais extenso do termo ?¦Ä¦Å¦Ë¦Õ??, mas evidencia ainda mais os laços humanos de Jesus adquiridos pela sua Encarnação no seio virginal de Maria: tornou-se Irmão por excelência de toda a Humanidade.
Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1818/a-controversia-sobre-os-irmaos-de-jesus
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