Dom Ant¨®nio Barroso, bispo do Porto, mission¨¢rio em ?frica
Rui Saraiva ¨C Porto
O Paço Episcopal do Porto acolheu nos dias 7 e 8 de junho um Colóquio sobre D. António Barroso, no centenário da sua morte. Em análise a sua vida e ação pastoral no contexto político, social e eclesial da época. Foi missionário e bispo. Em destaque a sua firmeza, visão pastoral, autenticidade, liberdade e simplicidade evangélica.
D. António José de Sousa Barroso nasceu no lugar de Santiago, freguesia de Santa Maria de Remelhe em Barcelos, no Norte de Portugal, a 5 de novembro de 1854. Em Novembro de 1873, ingressa no Real Colégio das Missões Ultramarinas, em Cernache do Bonjardim na Sertã.
Ordenado presbítero, o seu primeiro trabalho missionário foi restaurar a antiga missão do Congo, em África, onde construiu uma capela, uma escola, um pequeno hospital e criou condições para o ensino de práticas agrícolas.
Em Fevereiro de 1891 foi nomeado para Moçambique. Com essa missão, e depois de confirmado pelo Papa na dignidade de bispo de Himéria (a 1 de Junho de 1891), parte para Moçambique, onde desembarca a 20 de Março de 1892. Do seu pontificado africano destaca-se a preocupação em visitar as paróquias e as missões já estabelecidas no seu vasto território diocesano, assim como a criação de novas missões, de modo a formar uma rede de postos missionários. Atendeu, igualmente, à questão da instrução, em especial a feminina, tendo fundado os Institutos D. Amélia e Leão XIII, que deixou a cargo das Irmãs de S. José de Cluny, sendo estas as primeiras escolas moçambicanas para ensino feminino.
Por decreto de 2 de Agosto de 1897, foi bispo de S. Tomé de Meliapor, na India, onde reformou os programas do Seminário e dotou-o de uma biblioteca, construiu um convento para franciscanos e remodelou o orfanotrófio-asilo de Madras.
Praticamente duas décadas depois de ter iniciado a sua missão ultramarina, D. António Barroso foi nomeado bispo do Porto, a 21 de Fevereiro de 1899.
Fez nascer a Obra de Assistência aos Clérigos Pobres da Diocese do Porto, com estatutos aprovados em Junho de 1916. E às questões económicas junta as de formação, revelando grande cuidado com o Seminário da Sé, onde ergueu a biblioteca, com o restabelecimento das Conferências theologico-moraes e lithurgicas, com a organização de retiros. Criou, ainda, o Boletim da Diocese do Porto, em 1914, e transformou o jornal católico A Palavra.
O papel da agricultura e as questões salariais também foram motivo de reflexão do prelado que aponta, na sua abordagem, para o sentido cristão do trabalho e para o papel social da Igreja como alavanca para a transformação da sociedade.
Após a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, os bispos escreveram uma pastoral coletiva em defesa dos direitos da Igreja Católica, condenando os agravos das novas leis civis e a forma autoritária como o novo regime cerceava e atacava os princípios e as instituições da religião católica. O governo republicano proibiu a leitura deste documento nas missas. D. António Barroso não aceitou esta ordem. Foi chamado a Lisboa e proibido de voltar a qualquer lugar do seu bispado.
Entre Março de 1911 e Abril de 1914, D. António viveu exilado, na sua casa em Remelhe, tendo ordenado clandestinamente na capela medieval da aldeia dezenas de diáconos e presbíteros.
Faleceu a 31 de Agosto de 1918 deixando no Porto um perfume de santidade no coração dos seus diocesanos. Do seu testamento ressalta uma frase lapidar: ¡°nasci pobre, rico não vivi, e pobre quero morrer¡±.
No Colóquio sobre D. António Barroso que decorreu na diocese do Porto nos dias 7 e 8 de junho, proferiu uma conferência D. Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício para a Cultura. Profundo conhecedor da vida e ação pastoral, tendo assinado com Amadeu Gomes de Araújo uma biografia sobre o missionário António Barroso, bispo do Porto, com o título ¡°Réu da República¡±, D. Carlos Azevedo salientou que D. António Barroso era um homem frontal e decidido, munido de uma ¡°verticalidade e uma autenticidade¡± capaz de ter ¡°liberdade¡± nos pareceres que dava à Santa Sé, revelando ¡°uma autonomia em relação a qualquer jogo que não estivesse de acordo com o Evangelho¡±.
O Delegado do Conselho Pontifício para a Cultura assinalou que D. António Barroso ¡°não tinha medo de dizer que discordava de certas normas da Santa S顱.
D. Carlos Azevedo afirmou ainda que D. António Barroso era um homem que ¡°pegava no Evangelho aplicando-o ao concreto dos tempos¡±.
Em 1992 foi dado início ao processo de beatificação e canonização de D. António Barroso. A 17 de Junho de 2017, o Papa Francisco aprovou o decreto que declara as "virtudes heróicas" de D. António Barroso, reconhecendo, assim, "as virtudes e o exemplo de vida de ministério e de missão" do homem que foi bispo do Porto entre 1899 e 1918.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp