Mo?ambique mergulha em crise de paz: Igreja apela ¨¤ reconcilia??o
Cremildo Alexandre ¨C Nampula, Moçambique
Moçambique vive tempos sombrios. Desde as eleições gerais de 9 de outubro de 2024, o país tem sido palco de graves conflitos pós-eleitorais, resultando em mortes de mais de 400 pessoas e na destruição de inúmeros bens. A resposta das autoridades, com o uso excessivo da força e da repressão, tem gerado sérias preocupações entre organizações de defesa dos direitos humanos, nacionais e internacionais.
Na capital, Maputo, a tensão agravou-se nos últimos dois meses com a ocorrência de homicídios cujas vítimas são, em muitos casos, agentes da polícia. Este ambiente de violência e desordem estende-se também ao norte do país, onde desde 2017 a província de Cabo Delgado sofre com ataques terroristas brutais, ceifando vidas e destruindo aldeias. A presença de forças militares estrangeiras e nacionais não tem sido suficiente para devolver a estabilidade à região.
Neste contexto crítico, a voz profética da Igreja não se cala. No último fim de semana, durante a homilia na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Nampula, Dom Inácio Saure, Arcebispo da Arquidiocese, lançou um forte apelo à paz e à conversão interior: ¡°Se o nosso coração não está em paz, então também nós nunca estamos em paz. Estamos em guerra em casa, no trabalho, na Igreja e no país. A paz não se impõe com armas, nasce do coração tocado por Deus.¡±
O prelado sublinhou que Moçambique está a celebrar os 50 anos da sua independência mergulhada num ciclo de dor, desencanto e insegurança: ¡°Hoje matam-se polícias, sequestram-se inocentes, e a violência é parte do nosso quotidiano. A missão da Igreja acontece neste contexto, não num ambiente fácil, mas onde há sofrimento real.¡±
A crise humanitária no país também foi recentemente destacada pelo Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), que colocou Moçambique em terceiro lugar na lista das dez crises de deslocamento mais negligenciadas do continente africano. Segundo o relatório, divulgado em junho, a violência em Cabo Delgado continua a desalojar comunidades inteiras, enquanto as tensões políticas, agravadas pelo ciclone tropical Chido, aprofundam o sofrimento de uma população já fragilizada.
Face a este cenário, a Igreja em Moçambique renova o seu compromisso de ser voz dos sem voz, defensora da vida e promotora de uma paz autêntica e duradoura, alicerçada na justiça, no diálogo e na reconciliação entre todos os moçambicanos.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp