Frei J¨²lio Candeeiro: Direitos humanos e teologia n?o podem caminhar separados
Sheila Pires ¨C Joanesburgo, África do Sul
Em entrevista ao Vatican News, durante o III Acampamento Nacional de Direitos Humanos e Teologia, Frei Candeeiro explicou a origem e o propósito desta iniciativa única que, desde 2023, vem unindo fé e cidadania num contexto pastoral profundamente desafiador.
Membro da Ordem dos Pregadores (OP), também conhecida como os Dominicanos, Frei Candeeiro destacou que o acampamento nasceu da constatação de um ¡°déficit de compreensão¡± nas comunidades eclesiais, onde muitas vezes se separa a teologia das questões concretas da vida.
¡°Detectamos uma tendência preocupante de dissociar a fé das lutas por justiça social e dos direitos humanos. Mas, no fundo, tudo converge na dignidade da pessoa humana que Cristo assumiu ao encarnar, e cuja defesa é a nossa missão principal como Igreja¡±, afirmou.
O acampamento, realizado de 15 a 20 de julho de 2025 no Seminário Maior Padre Sikufinde, na Arquidiocese do Lubango, reuniu pela primeira vez os seminaristas de teologia dos cinco seminários maiores da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe).
A formação abordou temas fundamentais como dignidade humana, justiça cristã, equidade de género, identidade cultural, espiritualidade libertadora e, pela primeira vez, a sinodalidade ¨C em sintonia com o caminho proposto pelo Papa Francisco.
Frei Candeeiro vê essa inclusão da sinodalidade como essencial para o futuro da Igreja. ¡°O Sínodo não pode ser apenas mais um documento guardado nas gavetas. Se não for vivido, refletido e assumido desde a formação, os seus frutos não chegarão ao povo¡±, advertiu.
Ele sublinhou que a formação sinodal ajudou os seminaristas a entender que a missão sacerdotal é, antes de tudo, serviço. ¡°O poder que o presbítero recebe não é para se impor, mas para servir como Cristo serviu. O clericalismo é uma tentação real, e deve ser combatido com uma pastoral enraizada na escuta e na partilha.¡±
Sobre o tema da equidade de género, Frei Candeeiro foi direto: ¡°Não estamos a falar de ideologia de género, mas de justiça e reconhecimento. As mulheres ¨C sejam leigas ou religiosas ¨C representam a maioria nas nossas comunidades, mas continuam fora dos espaços de decisão. É preciso rever isso.¡±
A edição deste ano contou com a participação de formadores e convidados, como a Dra. Sheila Leocádia Pires, Secretária da Comissão para a Informação do Sínodo sobre a Sinodalidade, que orientou a formação em sinodalidade. Também colaboraram Ir. Isabel Alfaro, biblista, Frei Gonçalo Dinis OP, e outros especialistas que ofereceram uma abordagem interdisciplinar e profundamente enraizada na realidade africana.
Para Frei Candeeiro, o contexto social e político de Angola torna essa formação ainda mais urgente. Ele lamentou as recentes manifestações populares marcadas por repressão e silenciamento nas mídias estatais: ¡°Estamos a viver tempos difíceis. A subida dos combustíveis, a inflação, a pobreza extrema ¡ tudo isso afeta o povo. E quando o povo protesta, a resposta não pode ser cortar a internet ou silenciar as vozes. A Igreja não pode ficar calada.¡±
A resposta dos seminaristas foi entusiástica, pois muitos relataram que foi a primeira vez que refletiram de forma profunda sobre temas como sinodalidade e justiça social. Gabriel Miguel, seminarista do Lubango, comentou ao Vatican News: ¡°Agora compreendo que ser padre não é mandar, mas caminhar com o povo.¡± Já Mário Kamala Albino, do Sumbe, disse que aprendeu que ¡°fé e direitos humanos não são opostos, mas aliados na defesa da dignidade.¡±
O acampamento encerrou com uma celebração eucarística na Catedral do Lubango, presidida pelo Pe. Manuel Calengue, reitor do Seminário maior da arquidiocese do Lubango. Para Frei Candeeiro, os frutos da iniciativa serão colhidos a longo prazo: ¡°Formar presbíteros conscientes, comprometidos e enraizados no Evangelho é plantar sementes de esperança para a Igreja e para a sociedade.¡±
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