Filipe Andrade - Deus acima de tudo, a Igreja ¨¦ um suporte...
Dulce Araújo - Vatican News
Filipe Jorge da Graça Andrade é aluno do Complexo Educativo Manuel António Martins, em Santa Maria, ilha do Sal, uma das três escolas que participaram da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, que este ano homenageou a geração dos poetas da luta de libertação. Foi no quadro dos 50 anos das independências nacionais de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Na abertura do Festival, os alunos leram poesias de poetas emblemáticos dessa época e revelaram um pouco do que aprenderam de líderes da libertação. E nessa sessão marcada pela poesia, para além dos alunos, várias outras pessoas leram poemas não só dos quatro poetas escolhidos - Agostinho Neto (Angola), Onésimo Silveira (Cabo Verde), Noêmia de Sousa (Moçambique), e Alda Espírito Santo (São Tomé e Príncipe) - mas também doutros autores ou de autoria própria. Filipe leu a poesia ¡°Medo¡± da sua autoria. Não se considera um poeta, mas na sequência duma oficina escolar sobre o tema, sentiu-se inspirado e decidiu escrever o poema:
Um poema, de certo modo, autobiográfico, mas que reflete a realidade de muitos jovens - disse Filipe ao explicar o que está por trás desse poema que, para ele, é um desabafo...
Filipe Andrade não vem ao Jubileu dos Jovens que está prestes a ter início em Roma, onde decorrerá de 28 de julho a 3 de agosto, mas recorda, com emoção, a JMJ Lisboa-2023 com o Papa Francisco.
Palavras de Filipe Andrade, recolhidas no dia 26/6/2025 no âmbito do Festival de Literatura-Mundo do Sal, em que participou como aluno do CEMAM e onde leu a poesia ¡°Medo¡±. As outras duas escolas que participaram do Festival foram a Escola Básica e Secundária Olavo Moniz (EBSOM) e o Colégio Letrinhas.
Recorde-se que o Festival de Literatura-Mundo do Sal é organizado anualmente pela Rosa de Porcelana Editora e pela Câmara Municipal do Sal juntamente com diversas parcerias, entre as quais a Novamonti.
Texto do poema
Eu tenho medo
Tenho medo de morrer
Tenho medo de não viver por causa do medo da morte
Tenho medo do futuro
Tenho medo do meu passado atrapalhar o meu futuro
Tenho medo
De ouvir que era melhor eu não ter nascido
De ouvir que nunca querias ter me conhecido
De estar a ser enganado e feito de trouxa
De não estar a fazê-la feliz
De não ser suficiente para ela
De no fundo ninguém gostar realmente de mim
De no fim ficar sozinho
De ser abandonado
De estar a forçá-la a ser alguém que ela não quer
De estar a sufocá-la sem perceber
Tenho medo de sentir medo
Pois os meus medos me sufocam
Eles me fazem duvidar
Dúvidas que não me abandonam
Dúvidas que são minha única certeza
Dúvidas em que mergulho sem notar
E em que me afogo silenciosamente
Tenho medo de mim
Medo que se transformar em raiva, em ódio
Ódio por
Não ter motivos e mesmo assim sentir medo
Ódio por
Não ter motivos e mesmo assim sentir abandonado
Ódio por
Ter mil e um defeitos e não conseguir mudá-los
Ódio por não conseguir me tornar naquilo que sempre sonhei
Ódio por
Sentir-me frustrado, com medo e cheio de dúvidas
Ódio por ser quem sou
Ódio por sentir medos que se transformam em dúvidas e que geram mais ódio
Ódio desse ciclo vicioso e sem fim
Ódio do medo
E Medo do Ódio
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp