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Goretti de Pina, estilista, escritora e jurista santomense Goretti de Pina, estilista, escritora e jurista santomense 

Goretti de Pina - Est¨¦tica numa dimens?o africana, multicultural

¡°? uma b¨ºn??o termos conseguido a independ¨ºncia¡± - afirma esta estilista, escritora e jurista santomense que olha para o futuro do seu pa¨ªs com esperan?a e agradecimento por quanto foi feito at¨¦ hoje. 50 anos volvidos sobre o i?ar da Bandeira Nacional, n?o deixa, contudo, de ser cr¨ªtica e de convidar ¨¤ responsabilidade e ao comprometimento de todos para um futuro melhor.

Dulce Araújo ¨C Vatican News

São vários os motivos para esta conversa com Goretti de Pina no programa ¡°África em Clave Cultural: personagens e eventos¡± deste dia 17 de julho de 2025:

Em primeiro lugar por ter adicionado aos vários prémios que já recebeu, um outro: o ¡°Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia¡± que lhe foi entregue a 9 de julho, em Lisboa, na Embaixada de São Tomé e Príncipe. Lugar simbólico nesta quadra do Cinquentenário da Independência daquelas duas ilhas do Golfo da Guiné: 12 de julho de 1975 - 12 de julho de 2025.

O Prémio é por ela considerada um estímulo a continuar, através da literatura, à qual se entrega com paixão, a chamar a atenção para determinadas situações, e de entre elas, estão certamente alguns aspetos no seu país, como o sector da saúde que não anda nada bem, ao contrário da educação em que se tem registado algum progresso. Mas isso não impede a esta observadora atenta e positiva de reconhecer o que se fez de positivo em São Tomé e Príncipe nestes 50 anos e de agradecer a quantos se empenharam neste sentido. A independência é para ela uma espécie de ¡°sonho¡± inacabado e que requer vontade e compromisso de todos para se consolidar. Há ¡°um longo caminho a fazer¡± para que a independência seja total, diríamos, citando o Hino Nacional que ela sugere para conclusão da emissão.

Hino da autoria de Alda Espírito Santo, figura incontornável do São Tomé e Príncipe pré e pós-independência e que Goretti define uma ¡°Mãe¡±. Ela soube, de facto, orientar os jovens e, sobretudo, ¡°viveu para o país¡±. São Tomé e Príncipe precisa de mais gente como ela - diz Goretti, considerando a homenagem que foi feita à Alda no Festival de Literatura-Mundo do Sal (26-29/6/2025) enquanto poeta da geração da luta, muito justa e merecida.

Goretti de Pina na conclusão da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal
Goretti de Pina na conclusão da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal

Goretti de Pina participou nesse Festival como escritora. ¡°Eventos como esses são para mim alimento para alma e para a criatividade¡± - afirma, revelando ¡°que foi uma aprendizagem ouvir pessoas com mais experiência (...).¡± Enfim, foi um momento enriquecedor durante o qual tomou ¡°algumas notas¡± e escreveu poesias que poderão vir a servir de base para uma nova obra. E a sua criatividade levou-a também a desafiar os companheiros para uma poesia coletiva, ¡°um registo desse encontro, dessa união¡±, ¡°Poema de todos nós¡± com que se encerrou o Festival.

Esta artista multifacetada dá-se assim a conhecer pela sua atitude positiva perante a vida, pela sua fé, notável na canção ¡°Tem f顱 que sugere para animar a emissão, mas também através do seu rico percurso profissional e de empenho social em São Tomé e noutras paragens, pelas obras literárias que tem publicado, pela sua inquietação perante o mundo que gostaria de ver melhor, e para a qual considera que a poesia pode contribuir, como se lê na crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) sobre ela. 

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Leia aqui a crónica de Filinto Elísio

Crónica

Goretti Pina: Estética numa dimensão africana, multicultural e cosmopolita

A escritora são-tomense Goretti de Pina, de 49 anos, ganhadora do Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2024, mas atribuída este ano, nasceu na ilha do Príncipe e, desde criança, escreve e costura. Vive em Lisboa desde o ano 2000 e mantém viva as suas paixões criativas.

De nome completo Alice Goretti Dias Xavier de Pina, em 1993 mudou-se da ilha do Príncipe para a ilha de S. Tomé a fim de concluir os estudos secundários no Liceu Nacional. Regressou à sua ilha natal, onde trabalhou como professora eventual de Português no ensino secundário.

De novo em S. Tomé, foi secretária de ministro do Ministério da Saúde, fez o curso de Formação de Empresários e integrou a direção da Associação de Jovens Santomenses com Iniciativa Empresarial até ao ano de 2000.

Em 1996, levou a público a sua primeira coleção de Moda. Seguiram-se diversas exposições individuais e coletivas por vários países, e algumas menções de reconhecimento/homenagens, as mais recentes em junho de 2019 pelo Governo Regional do Príncipe e em setembro de 2020 pelos estudantes santomenses em GE/Associação dos santomenses residentes em Bioko e pela Embaixada de São Tomé e Príncipe na Guiné Equatorial.

Para além disso, dedica-se ao associativismo comunitário. Trabalhou como mediadora intercultural nos Serviços Públicos (nas áreas de Saúde, Educação e Intervenção Comunitária) até final de 2013, no MISP (projeto do ACIDI em parceria com a Câmara Municipal de Loures e o movimento associativo do Concelho).

Como poeta, ela está muito ligada ao telurismo ambiental do arquipélago onde nasceu e no qual guarda uma fé enorme, como afirma nestes versos:

(...)

Transgride as leis do sol

esse tempo sem idade.

Esse relógio que repousa as suas pressas

neste pouso equatorial.

Pouso concreto de sal horizontal

neste roseiral icónico

de gritos verdejantes.

(...)

Inspira-se, enquanto modista, nos seus próprios poemas, mas também nas pessoas e nas paisagens para, transformada a inspiração em obra, conquistar as pessoas com suas criações. O seu ateliê de moda, um pequeno espaço de trabalho, com prateleiras repletas de tecidos com padrões coloridos e uns cabides com vestidos que estão quase prontos em Lisboa onde registou a sua marca Goretti Pina Fashion em 2008, reflete a vida crioula de São Tomé e Príncipe. Em relação à moda, ela defende que é uma responsabilidade bastante apurada, e assertividade no que se vai comunicar e transmitir.

Em 2003 concluiu o curso de Marketing Internacional para a Indústria do Vestuário, um ano após ter ingressado no ensino superior, em que se licenciou em Direito e pós-graduou-se em Criminologia.

A autora tem poemas publicados na secção de Escrita Criativa da revista Lusófona de Línguas, Culturas e Tradução, Babilónia, de 2005. Em 1999, com a obra O amor da filha do angolar chegou à final do Prémio PALOP do Livro/98 em Maputo.

Em 2010 ganhou o concurso Criar Lusofonia, promovido pelo Centro Nacional de Cultura e pela Direção Geral do Livro, Arquivo e Bibliotecas, com o projeto No dia de São Lourenço.

Publicou em novembro de 2012 a obra poética Viagem. Seguem-se diversas participações em antologias poéticas e em encontros de escritores. Editou em 2013 o romance No Dia de São Lourenço encanto do Auto de Floripes. O romance ambientado na Ilha do Príncipe, desenvolve uma trama folhetinesco: o namoro entre uma jovem local e um médico português que chega à ilha.

Em fevereiro de 2014 aceitou o desafio da CPLP/FAO para madrinha da campanha Juntos contra a Fome! iniciativa que visa erradicar a fome nos países da CPLP até ao ano de 2025. Como tal, tem colaborado nas atividades desenvolvidas nesse âmbito.

Venceu novamente o concurso Criar Lusofonia 2014 com o projeto Feijão N'Água, Pagá Dêvê, Lujá Bôtê e outros contos de se ler. Em 2015 colabora com o projeto Contextos de São Tomé e Príncipe, do grupo HBD mediante a doação de um conjunto de poemas. No leito das asas, À beira do tempo, cujas receitas reverteram totalmente a favor de projetos sociais na ilha do Príncipe.

Em 2019, publicou As Gargalhadas do Mestre Juju. Para ela, o Mestre Juju era um senhor conhecido na ilha do Príncipe pelos seus talentos no domínio musical, além de outras atribuições. Diz que é preciso criar condições para podermos avançar, evoluir, e, em alguma circunstância, despreocupadamente, darmos uma boa gargalhada sobretudo de nós próprios.

Mais recentemente publicou ¡°Lagaia¡±, texto infanto-juvenil e ¡°Baiado¡±, livro de contos ligado ao projeto acima referido: Feijão N'àgua, Pagá devê, Lujá Botê e outros Contos de se ler

Num dos versos emblemáticos, esta estilista e poeta afirma: ¡°Começou quando terminava. / Ninguém lhe viu o apagão / nem a luz que se seguiu. / Tinha poemas no corpo, / lençol de esmeraldas nos olhos. / Ninguém viu.¡±

Goretti Pina é uma esteta. Acredita que a arte é uma das formas de expressão do amor e de resistência, capaz de salvar o mundo. Ou torná-lo mais justo.

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17 julho 2025, 08:57