RDC e Ruanda assinam acordo de paz em Washington com apoio internacional
Vatican News com Agência Fides
O entendimento baseia-se numa Declaração de Princípios acordada entre os dois países no passado mês de abril e contempla o respeito pela integridade territorial da RDC e a cessação das hostilidades na região dos Kivu, onde se concentram os principais focos de tensão.
A assinatura do acordo teve lugar numa reunião ministerial que contou com a presença do Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, bem como das chefias diplomáticas da RDC, Thérèse Kayikwamba Wagner, e do Ruanda, Olivier Nduhungirehe. Ambos os representantes foram também recebidos na Casa Branca pelo ex-Presidente Donald Trump.
Segundo informações recolhidas pela Agência Fides, este acordo resulta de uma complexa estratégia negocial, que envolveu não apenas os dois países africanos, mas também os Estados Unidos da América, o Qatar e a União Africana. Paralelamente às negociações formais entre Kigali e Kinshasa em Washington, decorreram nos últimos meses conversações em Doha, entre autoridades congolesas e representantes da Aliança do Rio Congo/Movimento 23 de Março (AFC/M23), grupo rebelde apoiado pelo Ruanda e que atualmente controla vastas áreas das províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul.
A paz e os interesses económicos
O envolvimento norte-americano é motivado, em parte, pelo interesse nas ricas jazidas minerais congolesas, cuja exploração está atualmente condicionada pelo controlo territorial exercido por forças rebeldes. De acordo com o mais recente relatório da Rede Paz para o Congo, quase todas as minas mais relevantes do país estão sob gestão de empresas chinesas, o que limita a capacidade do governo de Kinshasa em oferecer contrapartidas reais aos Estados Unidos. ¡°Os EUA serão forçados a negociar nos bastidores com a China, contornando o governo congolês¡±, lê-se no documento.
A Rede de missionários presentes na região alerta, no entanto, para a necessidade de prudência quanto à eficácia do novo acordo. ¡°A história recente da região dos Grandes Lagos, e da RDC em particular, está repleta de acordos de paz e cessar-fogos que nunca chegaram a ser plenamente respeitados¡±, sublinha o relatório. Recorda-se que, apenas nos últimos quatro anos, mais de uma dezena de acordos semelhantes foram violados.
Paz duradoura exige justiça restaurativa
O regresso do antigo Presidente congolês Joseph Kabila a Goma, cidade estratégica nas mãos do AFC/M23, e os relatos de novas aquisições de armamento por parte do governo central são vistos por analistas locais como sinais contraditórios que colocam em causa uma desescalada real do conflito.
Para a Rede Paz para o Congo, a verdadeira paz não se alcança apenas com acordos políticos, mas requer um compromisso firme com a justiça restaurativa, em particular para com as centenas de milhares de vítimas civis ¨C mulheres, homens, crianças e idosos ¨C que têm sofrido atrocidades como violações, deslocamentos forçados e assassinatos.
¡°Só haverá paz verdadeira quando forem reconhecidos os direitos das vítimas e feitas as devidas reparações por todas as partes envolvidas no conflito¡±, conclui o relatório dos missionários.
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