Koyo Kouoh ¨C Uma africana global na curadoria da arte
Dulce Araújo - Vatican News
Paula Nascimento recebeu com ¡°espanto¡± a notícia da morte de Koyo Kouoh, sua ¡°amiga e mentora¡±. Uma relação que vinha de 2013, quando a co-curadoria da Paula fez ganhar ao Pavilhão de Angola o Leão de Ouro, na Bienal de Veneza, pela melhor participação nacional.
Para esta Arquiteta e curadora angolana, independente, que ¡°trabalha na intercessão entre a Arquitetura e as Artes visuais¡±, a Koyo - que desenvolveu trabalhos também em Angola - é uma fonte à qual ir ¡°beber¡±. É que a ação e o pensamento dela inscrevem-se na linha da luta que alguns outros artistas e curadores têm travado, desde há décadas, para dar à África o lugar que lhe é devido no mundo das artes, e têm também teorizado essa problemática.
Além disso - frisa a Paula Nascimento - Koyo tinha uma visão pan-africanista e preocupava-se muito com a formação dos mais novos. A ¡°Raw Material Company¡± que ela criou em Dakar e a sua Direção do "Zeitz Museum of Contemporay Art Africa¡±, na África do Sul, refletem esta visão de conjunto, de partilha, de ponte entre africanos e entre a África e o mundo - dizia a própria Koyo, ao explicar o significado do nome ¡°Raw Material¡±.
Para a Koyo os curadores africanos devem ser ¡°agentes culturais¡±, ¡°trabalhadores do espírito¡± - salienta ainda a curadora angolana, pondo em realce a relação entre a arte e sociedade no seu todo, tão acarinhada pela Koyo.
A nossa entrevistada considera ainda que uma bela forma de homenagear a curadora camaronesa-suíça seria fazer com que a direção artística da 61ª Bienal para a qual ela tinha sido nomeada e sobre a qual estava a trabalhar, continuasse, de algum modo, nas mãos da África que tem, felizmente, outros curadores capazes dessa tarefa. Mas isso, vai depender também da decisão da presidência da Bienal.
A morte da Koyo, cujo percurso e legado são ampliados na crónica do intelectual e cofundador da Rosa de Porcelana Editora, Filinto Elísio, deixa, portanto, um grande vazio, mas também uma importante herança para o mundo das artes e particularmente para a África, como se pode ouvir, em baixo, no podcast da emissão "Africa em clave cultural: personagens e eventos" de 22 de maio de 2025.
Crónica de Filinto Elísio
Koyo Kouoh ¨C Uma africana global na curadoria a arte
A curadora e intelectual camaronesa, Koyo Kouoh, nomeada em dezembro de 2024 como responsável pela curadoria da 61ª Bienal de Veneza 2026, era umas das mais destacadas figuras promotoras do pan-africanismo na arte. Era especialmente conhecida pelas suas exposições sobre feminismo e pela sua atenção a África.
Nascida na cidade de Douala, nos Camarões, em 1967, Kouoh foi criada em Zurique. Fez estudos superiores em Administração de Empresas e Bancárias, na Suíça, e em Administração Cultural, na França.
Inspirada pela antologia de escritos por mulheres afrodescendentes de Margaret Busby, ¡°Filhas da África¡± (1992), Kouoh editou conjuntamente a sua própria antologia de escritoras em 1994.
Em 2001 e 2003, Kouoh partilhou a curadoria com o escritor Simon Njiami na Bienal de Fotografia do Mali, intitulada ¡°Encontros de Bamako¡±.
Entre 2007 e 2012, ela juntou-se às equipas de curadoria da Documenta 12 e 13, em Kassel, na Alemanha. De 2008 a 2019, Kouoh foi fundadora e diretora artística da ¡°RAW Material Company¡±, um centro de arte, conhecimento e sociedade, em Dakar. Foi também curadora do programa de educação da Feira de Arte Contemporânea Africana, em Londres.
Foi também Consultora da curadoria na Bienal de Dacar, tendo nesse certame assumido várias outras funções. Em fevereiro de 2014, foi convidada pela União Europeia e pelo Ministério da Cultura do Senegal para o desenvolvimento de uma reforma completa da Bienal de Dacar.
Em 2016, Kouoh fez a curadoria da edição desse ano da ¡°EVA International¡±, a Bienal de Arte Contemporânea da República da Irlanda.
A partir de 2019, assumiu o cargo de Diretora Executiva e Curadora-Chefe do ¡°Zeitz Museum of Contemporary Art Africa¡±, na Cidade do Cabo. Nesse Museu destacou-se pelas exposições de artistas dos últimos 100 anos da África e da diáspora africana global, ampliando a autorrepresentação e as subjetividades negras.
Em 2020, Kouoh recebeu o Grande Prémio Suíço de Arte / Prémio Meret Oppenheim.
Faleceu no dia 10 de maio de 2025, com quase 58 anos de idade, meses depois de ter aceitado assumir a Curadoria das Artes da 61ª Bienal de Veneza de 2026, uma das mais influentes bienais de arte e arquitetura e cinema do circuito mundial.
Para o presidente da Bienal, Pietrangelo Buttafuoco, dissera que era ¡°o reconhecimento de uma visão na aurora de um dia cheio de novas palavras e novos olhares".
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