Mo?ambique a ferro e fogo na ¨²ltima Nota Pastoral da Confer¨ºncia dos Bispos
P. Tony Neves, Roma
A independência de Moçambique em 1975 também é descrita como ¡®um sonho de liberdade e autodeterminação¡¯. Este sonho que se tornou realidade e permitiu ¡®sermos donos da nossa terra, protagonistas do nosso futuro¡¯, tem encontrado ¡®obstáculos e ameaças que põem à prova a esperança de conseguir a sua realização¡¯. E os Bispos dão nome a esses problemas que vitimam o povo moçambicano, comprometendo o seu presente e o seu futuro.
O terrorismo em Cabo Delgado, com perspetivas terríveis de alastrar a outras Províncias, começou há cinco anos e não teve o combate necessário: ¡®são semeadas destruições e mortes violentas de crianças, de mulheres e homens inocentes e pessoas de boa vontade, como foi a Irmã Maria de Coppi, assassinada a 6 de setembro, no ataque à Missão de Chipene, Diocese de Nacala¡¯.
Os Bispos consideram inaceitável a continuação deste sofrimento desumano que frustra ¡®o sonho de sermos uma nação de paz, concórdia, independente, justa e solidária¡¯. O mais dramático é que ¡®jovens moçambicanos continuam a engrossar as fileiras dos que semeiam o terror¡¯. Talvez porque tenham perdido a ¡®esperança num futuro favorável¡¯ (¡) sem oportunidades de construir uma vida digna¡¯.
Outro problema dramático para as populações é o aumento insustentável do custo de vida. Tal situação dramática para as populações mais pobres arrasta para a miséria extrema pessoas que já têm vidas muito sofridas. Culpa-se a covid, as ¡®dívidas ocultas¡¯, as alterações climáticas e a guerra na Ucrânia. Mas, no interior do País, há que combater as desigualdades gritantes, sendo necessárias ¡®políticas corajosas que eliminem o crescente abismo existente entre ricos e pobres¡¯, situação que pode conduzir a convulsões sociais, pondo em causa a paz e a coesão social, pois ¡®nenhuma paz sobrevive a exclusões e a injustiças sociais¡¯.
A corrupção também é denunciada pelos Bispos, ¡®como outro dos grandes males que frustram o sonho de ser uma nação independente, desenvolvida e de bem-estar para os seus cidadãos¡¯. Esta ¡®praga social¡¯ está na origem ¡®da delapidação e destruição da riqueza e de todo o tecido social¡¯, comprometendo ¡®o projeto de um País livre, justo e solidário¡¯.
O favorecimento de grandes projetos económicos com capitais estrangeiros também leva à retirada de muitas pessoas das suas terras, sem dar espaço ao diálogo, mas criando um ¡®controlo social¡¯ que gera medo e põe em causa os direitos humanos e a liberdade de expressão e manifestação.
As reações a este documento chegam-me de várias regiões do País. O P. Alberto Tchindemba, angolano a trabalhar em Nampula, acha que os Bispos percebem bem quanto o País está a sofrer e considera que ¡®a paz em Moçambique é ainda uma miragem, pois não há uma aposta séria em iniciativas geradoras de paz no seio da população¡¯. É de opinião que o Governo tem de fazer muito mais pela segurança e bem-estar das populações que se sentem indefesas e empobrecidas, vítimas da corrupção, do terrorismo, de um certo nepotismo, bem como de um rápido e insustentável aumento do custo de vida.
O P. Mário João Soares, diocesano do Porto em Nacala, diz que a Nota da CEM ¡®fica pelas palavras e não aponta ações concretas para combater estas ameaças. Como nos diz o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres ¡®não servem retóricas, mas arregaçar as mangas e pôr em prática a fé através dum envolvimento direto¡¯. Eu por cá vou tentar arregaçar as mangas¡¡¯ ¨C conclui.
O P. Raul Viana, Superior da Missão de Itoculo, reage: ¡®Está lá tudo dito: ¡®os 50 anos de independência ainda é sonho por concretizar; os jovens não têm perspetivas de futuro, por isso deixam-se levar por grupos de terroristas; a falta de liberdade de expressão é cada vez mais forte em Moçambique; a corrupção e as dificuldades de vida da maioria dos moçambicanos, com uma economia que gera ricos e aumenta a pobreza do povo simples¡¯.
Para o P. Edmilson Semedo, cabo-verdiano, na Matola (Maputo), ¡®renasce o sonho de uma Igreja chamada a ser voz dos sem voz e dos oprimidos pela violência, corrupção, guerra, pobreza e falta de perspetiva de futuro¡¯. Cristina Fontes, Leiga Voluntária em Nacala, partilha: ¡®A nós, Igreja, cabe-nos continuar a acreditar pelos nossos jovens, continuar a manter viva a esperança de que o bonito sonho de paz, unidade e democracia, que se projectou para Moçambique há quase 50 anos, é possível!¡¯
A palavra final dos Bispos aponta para o seu compromisso em favor do povo, com a firme convicção de que ¡®uma sociedade solidária e em paz é possível¡¯.
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