ÐÓMAPµ¼º½

Busca

Crian?as na Beira (Mo?ambique), na celebra??o da Semana Santa Crian?as na Beira (Mo?ambique), na celebra??o da Semana Santa 

Ideias, ideais e valores nas ¨²ltimas obras do escritor mo?ambicano Mia Couto

Depois de fazer cortes e mais cortes nos recortes de texto que escrevo durante as leituras, decidi-me por um coment¨¢rio mais longo, partido em tr¨ºs, uma esp¨¦cie de trilogia, para imitar o escritor Mia Couto, este autor mo?ambicano, Pr¨¦mio Cam?es e muitos mais.

P. Tony Neves, no Porto, para o Vatican News

Quando acordei para o Mia Couto já o sol ia alto. Ou seja, ele já tinha publicado muitos e bons livros, marcados por uma criatividade que, para mim, foi amor literário à primeira vista. Depois, passei a vida a correr atrás do prejuízo, lendo as obras mais antigas. Das que ele publicou nos últimos anos, nem sequer ousei perder uma única linha.

Oiça aquia reportagem e partilhe

Como as férias ¡®ameaçam¡¯ e ler faz bem à inteligência (faz muito mal à ignorância!), fui à procura das notas de leitura das suas cinco últimas obras. Depois de fazer cortes e mais cortes nos recortes de texto que escrevo durante as leituras, decidi-me por um comentário mais longo, partido em três, uma espécie de trilogia, para imitar este autor moçambicano, Prémio Camões e muitos mais.

As Mulheres de Cinza

Mia Couto decidiu avançar para um novo estilo de escrita com ¡®As Areias do Imperador¡¯, a trilogia que romanceia as origens ancestrais do seu país natal. Publicou em 2015 o primeiro livro com o sugestivo título: ¡®Mulheres de Cinza¡¯. Eis alguns dos meus recortes:

¡®Mastigar o silêncio como se fosse um fruto amargo¡¯ (p.48); ¡®O pior modo de perder uma guerra é esperar eternamente que ela aconteça¡¯ (p.67); ¡®A diferença entre a guerra e a paz é a seguinte: na guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na guerra passamos a ser violadas por quem não conhecemos¡¯ (p.125); ¡®A guerra tinha-lhe entrado na cabeça, apagando-lhe os olhos por dentro¡¯ (p.139); ¡®Nasci e vivi entre sombras. A minha casa tinha o cheiro e o silêncio de um orfanato. Eu tinha tudo para ser um bom soldado¡¯ (p.154); ¡®A nossa indigência era o melhor escudo contra os agressores. Ninguém ataca quem não tem nada¡¯ (p.159); ¡®O pior do passado é o que está ainda para vir¡¯ (p.163); ¡®Ninguém tem mais poder que o medo¡¯ (p.258); ¡®Na língua dos zulus, ¡®voar¡¯ e ¡®sonhar¡¯ se diz com o mesmo verbo¡¯ (p.273); ¡®A generosidade de uma família mede-se pelo modo como acolhe os seus hóspedes¡¯ (p.279); ¡®Todos neste mundo somos descendentes de escravos ou donos de escravos¡¯ (p.284); ¡®A crueldade de uma guerra não se mede pelo número de campas nos cemitérios. Mede-se pelos corpos que ficam sem sepultura¡¯ (p.297); ¡®A maior ferida da guerra é não deixarmos nunca de buscar os corpos de quem amamos¡¯ (p.298); ¡®Eis o que faz a guerra: a gente nunca mais regressa a casa. E não há leito, não há ventre, não há sequer ruína a dar chão às nossas memórias¡¯ (p.302).

A Espada e a Azagaia

Em 2016, Mia Couto avança para a publicação do livro dois: ¡®A Espada e a Azagaia¡¯. Destaco: ¡®Foi isso que nem católicos nem protestantes entenderam: que em África os deuses dançam. E todos cometeram o mesmo erro: proibiram os tambores¡¯ (p.65); ¡®Quantas guerras há dentro de uma guerra? Quantos ódios se escondem quando uma nação manda os seus filhos para a morte?¡¯ (p.106); ¡®Bem sabe que essa é a natureza humana. Temos memória é para esquecer as nossas culpas¡¯ (p.115); ¡®Tentei pedir socorro, mas a boca não me chegou às palavras¡¯ (p.116); ¡®O pior sofrimento não é ser derrotado. É não poder lutar¡¯ (p.125); ¡®Não conheço mais eficiente triturador da alma: o ciúme é um moinho de vento que gira sem que haja nenhuma brisa¡¯ (p.139); ¡®Princípio: na guerra, quem tem pressa morre depressa¡¯ (p.151); ¡®Quem chega da guerra tem muito para esquecer¡¯ (p.216); ¡®as guerras são tapetes. Por debaixo deles se ocultam as imundícies dos poderosos¡¯ (p.224); ¡®Como poderemos empreender uma guerra se desconhecemos a fronteira que nos separa dos inimigos?¡¯ (p.318); ¡®O medo faz o pouco ser muito. E faz o tudo ser nada¡¯ (p.319); ¡®A paz não nasce por se vencer um adversário. A verdadeira paz consiste em nunca chegar a ter inimigos¡¯ (p.341); ¡®Sobejar? Esse verbo já não se conjuga em português¡¯ (p.355); ¡®A dificuldade estava nos generais que o rodeavam: a guerra podia ser arriscada, mas era a sua fonte de riqueza¡¯ (p.410); ¡®Quem foge não quer apenas sair de um lugar. Quer que deixe de haver lugares¡¯ (p.431).

Para a semana continuamos ¡­

Como nas telenovelas, deixamos o auditório suspenso quando apontamos para as cenas do próximo capítulo e nos despedimos. Para a próxima semana, avançamos para o último livro desta trilogia de Mia Couto, com o titulo ¡®o bebedor de horizontes¡¯

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp

21 junho 2021, 15:44