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O Antrop¨®logo, Luiz Mott, Professor aposentado da Universidade Federal da Bahia O Antrop¨®logo, Luiz Mott, Professor aposentado da Universidade Federal da Bahia 

Resgatar a hist¨®ria dos oprimidos

"Museu do Castelo". Um espa?o moderno sobre a saga dos Garcia d'?vila, potente fam¨ªlia latifundi¨¢ria e dona de escravos, nos prim¨®rdios do Brasil colonial. Foi recentemente inaugurado em chave tur¨ªstica, cultural e informativa no imenso s¨ªtio arqueol¨®gico do Castelo Garcia d'?vila ou Casa da Torre, na Praia do Forte, Bahia. Mas, e a face triste ligada ¨¤s torturas e heresias no Castelo sob a chefia de Garcia d'?vila Pereira de Arag?o, falecido em 1805, foi tida em conta? O antrop¨®logo e historiador, Luiz Mott, da Universidade Federal da Bahia, estudioso da mat¨¦ria, duvida.

Dulce Araújo - Cidade do Vaticano

No Brasil, algumas páginas web como ¡°Alma baiana¡± e a ¡°Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia¡± (ABIH), anunciaram a recente inauguração do Museu do Castelo Garcia d¡¯Ávila. Esse Castelo, também conhecido por Casa da Torre, foi construído a partir de 1551 por Garcia d¡¯Avila, que está na origem da mais potente família latifundiária dos primórdios do Brasil colonial. O Museu, aberto a 11 de fevereiro de 2021, é considerado por ¡°Alma Baiana¡±, um ¡°espaço fantástico¡±, moderno, que valoriza ¡°as peças arqueológicas daquele sítio histórico¡±. Já a ABIH cita a curadora do Museu, Rose Lima, segundo a qual o objetivo é apresentar ao visitante a narrativa da ¡°saga dos Garcia d¡¯Ávila¡±, entendida como "instrumento de cultura, educação e informação¡±.

Horrores e heresias no Castelo

Nenhuma referência específica é feita pelas duas supracitadas fontes aos horrores por que passaram, em meados do século XVIII, os trabalhadores, em regime esclavagista, nesse Castelo sob o Mestre de Campo, Garcia d¡¯Ávila Pereira de Aragão, um dos membros dessa potente família; horrores e heresias trazidos a público pelo historiador e antropólogo, Luiz Mott (Professor aposentado da Universidade Federal da Bahia) estudioso, entre outras matérias, de relações raciais no Brasil colonial, direitos humanos e religiosidade popular. Ele é autor de vários livros e artigos, entre os quais a obra disponível on line ¡°Bahia: inquisição e sociedade¡±, Salvador; EDUFBA, 2010, cujo quarto capítulo intitula-se ¡°Tortura de escravos e heresias na Casa da Torre¡±.  Desta temática dá conta também Nicoli Raveli, num artigo publicado a 23/4/2020 em Aventuras na História; e a revista brasileira ¡°Carta Capital¡± no artigo ¡°Um sádico em terras baianas: a História da crueldade na Casa da Torre¡± publicado a 3 de julho de 2019.

Resgatar os oprimidos e dar voz aos sem voz na Casa da Torre

O Programa Português (África) da Rádio Vaticano entrevistou, no âmbito da rubrica semanal ¡°Década dos Afrodescendentes: 2015-2024¡± o Prof. Luiz Mott que ilustra as razões da sua publicação com base nas fontes que descobriu nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa; dá alguns exemplos dessas indizíveis torturas e heresias, mostra-se surpreendido com o facto de enquanto estudioso da matéria não ter sequer sabido da abertura desse Museu e, o que, a seu ver, se deveria fazer neste lugar, onde um grande número de pessoas que ele define de ¡°mártires¡± padeceu horríveis torturas. Torturas que o ambíguo e católico, Garcia d¡¯Ávila Pereira de Aragão gostava de praticar mesmo na Sexta-feira Santa.

Para saber mais, oiça aqui a entrevista:

A Casa da Torre hoje

As torturas na Casa da Torre só parecem ter terminado com a morte de Garcia d¡¯Ávila Pereira de Aragão em 1805. A Casa passou a partir de 1835 ¨C segundo a revista Aventuras na História ¨C ¡°a ser abandonada, o que a levou à ruína¡±. Em 1938 foi declarada ¡°Património Histórico¡± e hoje ¡°é um dos pontos turísticos mais visitados da Praia do Forte¡±. E Alma baiana dá a conhecer todo o elenco do Conselho Curador sob o pivô da Fundação Garcia d¡¯Ávila. 

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23 mar?o 2021, 15:05